Podia fazer um bocadinho mais de esforço,
sei lá: deixar de ser essa clepsidra cheia de neve.
Gosto da sua pose clássica,
de peitos nus debruçados sobre um futuro académico,
livros raros e bibliotecas nacionais;
mas fazia bem em tirar de vez em quando
a gravata e o chapéu,
subscrevo e recomendo, eu.
Você sabe, gosto de coisas triviais, sou o seu cão banal,
colecciono cabelos
nas folhas de um herbário sentimental,
sou vítima do seu produto interno bruto, objecto
em série da maneira como segura no volante,
eu imundo e encharcado,
eu a sustentabilidade da segurança social,
analfabeto, pedreiro da Lena Construções. Lda.
Eu fácil eu farto eu fome
com a vida marcada na pele,
olha-me de frente
quando gritas e esticas a pernoca.
Quem manda aqui sou eu.
Agora abre a boca.