Eu já não acredito, mas penso ainda no sagrado,
como se a crença se transfigurasse em pensamento,
coisa mental, o único modo de crer.
Os blues saem pela janela, uma torneira aberta
arruína-nos, a todos nós, que sonhámos
com a natureza.
Suja, suja, é a cidade, e sujas estas vidas
de que nem sequer as vozes reconheço.
Tudo poderá assemelhar-se à higiene do começo
ou da origem, e há quem persiga o fantasma
do início, o mais antigo. A poesia é coisa suja,
ampla sombra do invisível plano
sobre cabeças que aguardam o fim
e começam outra vez como se o fim se furtasse
ao movimento e à repetição.