They keep us busy with their fierce loneliness
we know their smell, their consuming habits, transparent to each other

With them it is impossible to disguise
irony or pity

They look for us among superficial
arrangements and beyond that

A friend is a machine for inhabiting
the pre-historic wind of frozen mountains

They belong perhaps to other worlds
we always hug like survivors

With them we can dredge up a song
From under the storm

© Translated by Ana Hudson, 2012

 

Uma canção debaixo do dilúvio

Ocupam-nos com a sua feroz solidão
e conhecemos o seu cheiro, o consumo difuso, o visível de ambos os lados

Diante deles não é possível dissimular
a ironia ou a piedade

Esperam por nós entre diversas combinações
à superfície e para além disso

Um amigo é uma “machine à habiter”
o vento pré-histórico das montanhas geladas

Talvez pertençam a outros mundos
pois nos abraçamos sempre como sobreviventes

Com eles podemos arrancar uma canção
debaixo do dilúvio

in Estação Central, 2012