If my hand touches your skin,
instant accidents happen: unexpected
flowers bloom, earthquakes,
fires, revolutions perhaps,
sudden climate changes, delays
in train times, people
urgently kissing in the streets. We’ve
witnessed it: the solar explosion
of precise things, the road opening to the heart
of all beginnings. This is your skin
where my hand, barely touching
it, will feel unknown landscapes of flesh and
from where your eyes come back, two deep
lakes, two restless headlights slicing
the night, regardless of how often Adorno
may have said that lyrical poetry no longer
befits the world. If Adorno himself
had ever touched your skin, he would have climbed down
from his entrenched conviction and asked poets
to tell, once again, the world
that begins in your skin. Trees grow close
to the timid miracle of its tremor,
rivers run from a spring
as you lift your eyes. An immensity
so like the sea when you slowly move, or
when you hesitate, distracted in your pacing. A
moon rises when you speak, and the night
slightly darkens when you leave. If I could
inhabit you like a house perched
on a mountain slope or like a thoughtful
fisherman watching the sea from a quiet shore,
if I knew how to keep you in the morning, as
the flower keeps the dew, or hold you
as a fruit is held in a child’s hand, I would
set off through the hurried ways and settle
in you as in my homeland. The promised
land to which I could return, and where
at length I’d build my house. But I
look. I look around and see
you are not there. It was only the dream of you
and, waking, I realise the abrupt
illusion of fantasy. I raise
my unconvinced hand towards the ever-
lasting bookcase looking for Aesthetic
Theory. I leaf through it, distractedly,
feeling the most lyrical sorrow of being.
© Translated by Ana Hudson, 2010
Teoria Estética
Se pouso a mão sobre a tua pele,
imediatos acidentes acontecem: flores
brotam, inesperadas, terramotos,
incêndios, talvez revoluções,
vertiginosas mudanças do clima, atrasos
nos horários dos transportes, gente
urgente de beijar-se nas ruas. Isso
já vimos: o explodir solar das coisas
certas, a estrada abrir-se ao coração
de tudo no princípio. Isso é a tua pele,
que a mão apenas pousa sente táctil
de paisagem de carne jamais vistas. Por elas
são os teus olhos que regressam, dois
lagos fundos, dois faróis febris
cortando a noite, por muito que Adorno
tenha dito que a poesia lírica já não cabe
no mundo. Se Adorno, ele mesmo,
tivesse tocado na tua pele, desceria
da funda convicção e pediria aos poetas
que dissessem uma outra vez o mundo
tal qual nela recomeça. Árvores nascendo
do milagre tímido do seu estremecer,
rios que correm da fonte assim
teus olhos se levantam. A imensidão
tangente ao mar quando te moves
lenta, ou hesitas, distraída do teu passo. E
uma lua a erguer-se quando falas,
um pouco mais de noite quando partes. Se
pudesse habitar-te, como no declive
de um monte se erguem casas,
ou junto a uma praia sossegada,
um pescador absorto observa o mar,
se soubesse cingir-te tal o orvalho à flor,
pela manhã, ou ao fruto a mão
de uma criança, eu iria por caminhos
apressados, e fazia de ti o meu país. A
terra prometida onde voltar e onde
erguer com tempo a minha casa. Mas
eu olho. Olho em volta e vejo
que não estás. Tudo era só sonhar-te
e despertar é compreender em mim
abrupta a ilusão da fantasia. Levanto
a mão inconvicta para o lado, à procura
na estante sempre fixa da Teoria
Estética. E folheio-a distraído
no mais lírico desgosto de existir.
in Negócios em Ítaca, 2011