Beautiful friend of mine, you may sing to the moon
and love others nimbler than me,
gnaw at a bone, wonder at the stars,
be wise and human, besides being beautiful.
I’ve seen that you write a journal, with
your firm paw, your shiny fur,
and verses, where there always is, however,
a syllable too many held by a thread.
It matters little to you if I exist or not,
and you ignore the spiders’ torment
when the web is torn and it is urgent
to take measures, and keep weaving, on the lookout
for some careless innocuous prey.
You fly so loose, up in the firmament,
that you are taken for a bird or a comet;
and you dwell in immense thoughts… only you don’t know
that in tearing my berth you left behind
a drop of blood that holds you captive.
© Translated by Ana Hudson, 2010
Aracne (p. 9)
Formoso amigo meu, podes cantar à lua
e amar outros mais lestos do que eu.
roer um osso, admirar as estrelas,
seres sábio e humano, além de belo.
Já vi que escreves um diário, com
as patas firmes, o pêlo luzidio,
e versos, onde porém há sempre
uma sílaba a mais, presa por fios.
Pouco te importas se eu existo ou não,
e ignoras, das aranhas, o tormento
quando a teia se rasga e é urgente
tomar medidas, e tecer, à espreita
de alguma inócua presa imprevidente.
Voas tão solto, lá no firmamento,
que te tomam por pássaro ou cometa;
e meditas em vastos pensamentos… só não sabes
que ao rasgares o meu leito aqui deixaste
uma gota de sangue, a que estás preso.
in Aracne, 2004