Our love is beautiful
like the winter journeys
we never did together,
like the hot countries
we’ve never been to.
It’s beautiful like a train missed
at the last moment,
or a small harbour town
accidentally found.
Beautiful like torn maps
with the minor roads unmarked,
like mountains shrouded in mist
on a hot day,
boats in a deserted bay,
books peppered with sand,
bicycles with no brakes or destination.
Beautiful like the sun
that will die after us
five thousand million years from now,
and beautiful like the sealed breath
in the heart of things.
Such is our love. So beautiful,
so clear, so pure
that, eyes set on the night,
we manage to believe it exists.
© Translated by Ana Hudson, 2010
Barcos, livros, bicicletas
O nosso amor é belo
como as viagens de Inverno
que nunca fizemos juntos,
como os países quentes
que não visitámos.
É belo como os comboios perdidos
no último segundo,
ou as pequenas cidades portuárias
descobertas por acaso.
Belo como mapas rasgados
a que faltam as linhas das estradas secundárias,
como montanhas cobertas de nevoeiro
em dias de calor,
barcos numa baía deserta,
livros cheios de areia,
bicicletas sem travões nem destino.
Belo como o sol
que vai morrer depois de nós
daqui a cinco mil milhões de anos
e belo como o sopro selado
do coração das coisas.
É assim o nosso amor. Tão belo,
tão claro, tão puro
que, de olhos postos na noite,
chegamos a acreditar que existe.
in Criatura nº 4, 2009