At saturday prayers in the great Synagogue, the rabbi said
‘The miracle is not that an orange may become cubical, the miracle is
that already oranges are spherical’
There was nothing better than that stone.
A few hours. I should do this with all things.
Sometimes one doesn’t need that long, 12 minutes looking at
a wonky faulty traffic light and already nothing more beautiful than
a broken down traffic light!
The city is very frightened.
In these days before your death, the city became very frightened
of us.
The walls seemed to need help
The buildings could no longer bear their dwellers.
There was complete silence…
A Great silence,
Like when ten thousand lorries blow their horns at the same time.
Such calmness… We immediately understand Everything.
To learn more in one day that in the one before
As my mother told me, or did she tell my son?
The tumour is spreading through the whole head! – somebody shouted on
the megaphone.
Cassandra!
Everything’s fine!
Oranges are still round. It’s all so light…

I so much wanted to drink your milk.
You pushed my head and laughed.
You lit a cigarette.
Your body was my home.
I want to hug all men and women.
The supreme Embrace containing all mankind within
a mother’s strong arms.
The singers you used to like are more alive now.
The tunes on the radio taste of sour milk.
Calm down, it was only the end of the world.
Everything else goes on……………..

The funeral car went very slowly
It was all so cheerful… An Acute gaiety
That entered us
Like an iron beam falling on our heads
A suffocating happiness echoing through the universe on that
sunny saturday
Cassandra
Only one sound or one idea
Only one WORD

© Translated by Ana Hudson, 2011

 

Cassandra

Num sábado de oração na Sinagoga grande, o rabino disse
«O milagre não é uma laranja tornar-se cúbica, o milagre é as
laranjas já serem esféricas»
Nada era melhor do que aquela pedra.
Algumas horas. Devia fazer isso com todas as coisas.
Às vezes não é preciso tanto tempo, 12 minutos a olhar para um
semáforo avariado e torto e já nada é mais bonito do que um
semáforo a cair!
A cidade está cheia de medo.
Nestes dias antes da tua morte, a cidade ficou cheia de medo de
nós.
Os muros pareciam precisar de ajuda
Os prédios não conseguiam suportar mais os seus habitantes.
Fez-se um silêncio pleno …
Um silêncio Grande,
Como quando dez mil camiões buzinam ao mesmo tempo.
Tanta calma … Percebemos logo Tudo.
Aprender num dia mais do que no anterior
Como a minha mãe me disse, ou foi a meu filho?
O tumor está a alastrar-se a toda a cabeça! – Gritou alguém ao
megafone.
Cassandra!
Está tudo a correr bem!
As laranjas são redondas ainda. Tudo é tão leve …

Queria tanto beber do teu leite.
Tu empurravas-me a cabeça e rias-te.
Acendias um cigarro.
O teu corpo era a minha casa.
Quero abraçar todos os homens e mulheres.
O Abraço supremo que abarca toda a humanidade com os
braços grandes de uma mãe.
Os cantores de que tu gostavas estão agora mais vivos.
As canções na rádio sabem a leite estragado.
Calma, foi apenas o fim do mundo.
Tudo o resto continua……….

O carro funerário ia muito devagar
Foi tudo tão alegre … Uma alegria Aguda
Que entrava dentro de nós
Como uma viga de ferro a cair-nos na cabeça
Uma felicidade sufocante que ecoava pelo Universo naquele
sábado de sol
Cassandra
Só um som ou uma ideia
Só uma PALAVRA

in Delírio Húngaro, 2009