there’s a photograph of ruy belo*
and there’s also that very faint beach of ‘there’s neither death
nor beginning’
or there’s a photograph of my father on
a mozambican seashore
sitting with some man I never
knew, sun glasses – youth
– this other person
my father looking at the sea beyond
the photographer as if the photographer
and
now
whoever looks at the photograph holding it
with a hand from the future
as if they didn’t exist
we didn’t exist but it would also be
mine
that beach where ruy belo
still didn’t sport a beard and hair styles à la ruy belo
à la
allen ginsberg (already bygone people
people yet to come)
people who have all inhabited at length
in some moment a beach
a beach
which I know exists and happened
also when I died
also when I was young
and a poet in a photograph or in a reflection
on a bottle
my image
on the verge of summer my breast
holding out life
© Translated by Ana Hudson, 2011
O tempo circular
há uma fotografia de ruy belo
e há também aquela praia muito ténue de “não há morte
nem princípio”
ou há uma fotografia do meu pai numa
beira-mar de moçambique
sentado com um outro que nunca soube
quem era, óculos escuros – a mocidade
– esse outro
o meu pai olhando o mar para lá do
fotógrafo como se o fotógrafo
e
agora
quem vê a fotografia segurando-a
com a mão vindoura
como se não existissem
não existíssemos mas que fosse minha
também
aquela praia onde ruy belo
ainda não usava barba e cabelo à ruy belo
à
allen ginsberg (gente que já morreu
gente vindoura)
tudo gente que habitou longamente
em algum momento uma praia
uma praia
que eu sei que há e que aconteceu
também quando eu morri
quando eu também fui jovem
e poeta numa fotografia ou num reflexo
de garrafa
a minha imagem
a beira de um verão segurando
desde o peito a vida
in Quando escreve descalça-se, 2008
* Portuguese poet (1933-1978)