to my grandfather,
Don’t know why you died on me, but I never really understood death, or life, why
one if
The other reduces all to nothing, not even to ashes, and the anonymous bones but for
the name over
Which those who are left to become less and less weep, don’t know why you died
on me,
The mare must be alarmed by your absence, because today isn’t Sunday and you’re wearing
a tie, lying down, at this
Time of day, having drunk not a single drop of wine and hence, I want to believe, so still,
don’t know
Where I’ll go after the dawning of the Summer fête, now that the wagon is left turned upside
down and the woodwork
Will give up and give in to all these years it held out, to the woodworm, and the melons will
rot, the vineyard
Will die of thirsting for your sweat and your wine won’t fill again that mug which
seemed would last
Throughout eternity on top of the fireplace, by your side throughout the cold nights, the
harsh Winters
On the land forgotten by the country to which it is said it belongs, don’t know why you died
on me, but I’m sorry if
I contradict you and steal a bit of you which I’ll keep till I die for others,
you may shut your
Eyes, you may not tell proudly yet again the tale of my beating you at that game,
that it was me
Who wrote on your eyes that could not read, next to the same fireplace, you may
not cheat again
At whist, you may forget about me, thank you very much, I know how synapses
work and it’s
In their union that the soul lives, you may die on me, but I promise you and my apologies
to death,
I’ll be damned if I will ever let you die for good, not as long as your blood runs in
My veins, not as long as the days allow me to wake up and miss seeing you sitting
under the
Apple tree, as the cows grazed, and you held a piece of cork and a knife in your
hands,
With your look of eternity, your hands of chestnut roots and vine and cork
two
Oxen and I convinced I was the grandson of a real god, and therefore forgive your human
heart, worn out
By the years, hardened by the days, don’t know why you died on me, because it’s no use
you never will.
© Translated by Ana Hudson, 2019
Não Sei Para Que Me Morreste Porque É Inútil
para o meu avô,
Não sei para que me morreste, mas também nunca percebi a morte, ou a vida, para quê uma se
A outra está para reduzir tudo a nada, nem cinzas, e os ossos anónimos não fosse o nome sobre
O qual as lágrimas dos que ficaram a ser menos e cada vez menos, não sei para que me morreste,
A égua já deve estranhar a tua ausência, porque hoje não é Domingo e tu de gravata, deitado, a estas
Horas, sem teres bebido gota de vinho e quero acreditar que por isso tão sossegado, não sei onde
Irei depois da festa do Verão amanhecer, agora que a carroça ficará de pernas para o ar e a madeira
Desistirá e cederá todos os anos que aguentou, ao caruncho e os melões ficarão a apodrecer, a vinha
Morrerá de sede do teu suor e o teu vinho não voltará a encher aquela caneca que parecia ir ficar
Pela eternidade fora em cima da lareira, do teu lado pelas noites frias fora, dos rigorosos Invernos
Da terra esquecida pelo país a que dizem que pertence, não sei para que me morreste, mas desculpa
Contrariar-te e roubar um pouco de ti que guardarei até eu morrer para os outros, podes fechar os
Olhos, podes não voltar a contar-me com orgulho a história do jogo da sardinha, que fui eu
Que escrevi nos teus olhos que não sabiam ler, junto à mesma lareira, podes não voltar a fazer batota
Na bisca dos nove, podes esquecer-te de mim, obrigado, eu sei como funcionam as sinapses e é
Na sua união que vive a alma, podes morrer-me, mas prometo-te e que me desculpe a morte,
Que os raios partam, que nunca te deixarei morrer de todo, não enquanto nas minhas veias correr
O teu sangue, não enquanto o dia me permitir acordar e ter saudades tuas, sentado debaixo daquela
Macieira, enquanto as vacas pastavam, com um pedaço de cortiça e uma faca nas mãos,
Com o teu ar de eternidade, as tuas mãos de raiz de castanheiro e cepa e da cortiça dois
Bois e eu convencido que era o neto de um deus real, por isso perdoo o teu coração humano, cansado
Pelos anos, calejado pelos dias, não sei para que me morreste, porque é inútil, nunca me morrerás.
2015, Trepanação de Jerónimo Bosch
Mariposa Azual
© João Bosco da Silva