From Lisbon: an unfinished song, revisited, in the distance the Tagus
Unreal city under the brown fog of a winter afternoon
The Wasteland, T.S. Eliot
It may not be unreal, and it won’t have,
like the other one, a Thames for company,
but its river, its estuary as wide as
the sky, never stops being beautiful
Its clarity is at times so much more poignant
than the other whose skin leans against
the banks
of other rivers (the one that inspired the English poet
with its nymphs, or bequeathed the blond
women warriors to the German musician)
In these parts, this river has been called everything
from graceful to conjuror of such
ardent desire.
And the city which, in an ignorant moment of protean
explosion, inherited its waters,
its legends, its caravels,
has also inherited other things:
wishes to fly a thousand rhymes,
for people so diverse and for such immense nights,
for a moon so large and so out
from its gentle path
Not even Jerusalem blinded by a man
who, in the rip of the century,
spoke of it, as he spoke of London, Vienna,
Alexandria or others,
ah, sweet, run now, till I end my song
till I end my song, my song, my
song
Spenser’s line would fit here
now, original,
in a city not unreal,
but of so much blue, so laced
at its windows, and re-visited
by such sorrow,
that even she of the hyacinths, would
recognise herself: You,
hipocrite lecteur, mon semblable, mon frère
And the rest: a song
unfinished –
© Translated by Ana Hudson, 2010
De Lisboa: uma canção inacabada com revisitação e Tejo ao fundo
Unreal city under the brown fog of a winter afternoon
The Wasteland, T.S. Eliot
Não será irreal, nem terá,
como a outra, um tamisa a banhá-la,
mas o seu rio, de estuário tão largo como
o céu, não deixa de ser belo
É, por vezes, de muito mais pungente nitidez
do que aquela que encosta a sua pele
às margens
de outros rios (o que inspirou em ninfas
o poeta inglês, ou em louras
guerreiras o músico alemão)
Por aqui, desde fermoso a criador de tal
desejo ardente,
tudo lhe chamaram.
E a cidade que, em momento ignorante de proteica
explosão, lhe herdou a água,
a lenda, as caravelas,
dele herdou outras coisas:
desejos de voar milhares de rimas,
de gentes tão diversas e de noites imensas,
de uma lua tão grande e desviada
da sua rota amena
Nem Jerusalém cega por um homem
que, no rasgar do século,
dela falou, como falou de Londres, de Viena,
de Alexandria ou outras,
ah, doce, corre agora, till I end my song
till I end my song, my song, my
song
Era o verso de Spenser que agora aqui
cabia, original,
numa cidade que nem de irreal,
mas de um azul tão grande, de fachadas
tão renda nas janelas, e de uma mágoa
tão revisitada,
que aquela dos jacintos haveria
de se reconhecer: You,
hipocrite lecteur, mon semblable, mon frère
E o resto: uma canção
inacabada –
in Imagias, 2002