We bear the guilt of our worn out
shop-window eyes, of time squandered
in cafés.
We go through winter in each others’
rooms, and warm our fingers
in the mild fire of spring,
again and again we lower our exhausted faces,
ashamed at times
that we don’t know how to be
what we are.
Stacked into apartment blocks
or locked up in condominiums,
we are delicate flowers,
we seem spotless but our
hearts are often sullied.
We wait to be seated
at seaside restaurants,
with loose talk,
wandering hands,
and love despite it all,
love spoken in whispers
for fear of being woken.
Beasts roar in the dark of the room
after dinner,
in magnetic jungles that we document
sampling in high definition
the distant fright of distant things,
screened in the eerie plasma light
that flickers on the sofa.
We’ll die without again walking
the firm ground of the savannah.
We’ll forget about Lucy, her frail,
sweet bones,
we’ll also forget her father’s
surname, Leakey,
and wherever we lie down
we’ll always be a long way from home.
© Translated by Ana Hudson, 2011
Hominídeos (Ode ao Vale do Rift)
Carregamos a culpa do olhar gasto
nas montras, e do tempo
perdido nos cafés.
Fazemos a travessia do Inverno nos quartos
uns dos outros, e aquecemos os dedos
no lume brando da Primavera,
uma e outra vez baixamos o rosto exausto,
às vezes temos vergonha
porque não sabemos ser
o que somos.
Empilhados em prédios
ou fechados em condomínios,
somos flores de estufa,
parecemos limpos mas temos sujo
muitas vezes o coração.
Esperamos por mesa
no restaurante à beira-mar
com palavras desmedidas,
mãos sem lugar,
e amor apesar de tudo,
amor a falar baixinho
com medo de se acordar.
Rugem feras no escuro da sala
depois de jantar,
em magnéticas selvas que documentamos,
experimentando o longínquo temor das coisas longínquas
no ecrã que faz dançar o sofá
com estranha luz de plasma
e alta definição.
Morreremos sem pisar de novo
a terra firme da savana.
Esqueceremos Lucy, seus frágeis,
ternos ossos,
esqueceremos também o apelido
do pai, Leakey,
e onde quer que nos deitemos
estaremos sempre muito longe de casa.
n Revólver, 2006