I abandon you each night,
Exchange you for others,
For myself,
Or for the easy sleep that has always deceived me
Since childhood.
I leave you so often to the light of an old moon,
That queen of witches with her upwards twisted chin,
And in places haunted by dogs defecating
With the mute love of their owners,
In secrecy,
On the lead.
You should not wait.
This love is not made of blood, my soul doesn’t walk that deserted road,
Doesn’t tiptoe to contemplate your face,
And then lie over your frozen body
Or wipe from your eyes
the coldness
of a lewd dawn.
© Translated by Ana Hudson, 2010
Abandono-te todas as noites
Abandono-te todas as noites,
Troco-te pelos outros,
Por mim
Ou pelo simples sono que sempre me enganou
Desde criança.
Deixo-te ficar tantas vezes à luz duma velha lua
De queixo retorcido e rainha das bruxas
E em lugares frequentados por cães que defecam
Com o mudo amor dos donos
Sigilosamente
À trela.
Não devias esperar.
Este amor não é feito de sangue, a minha alma não anda nessa rua deserta,
Nem vai, pé ante pé, contemplar o teu rosto,
Deitar-se em seguida sobre o teu corpo gelado
E limpar-te os olhos do frio
De uma madrugada
Impudica.
in O Amante Japonês, 2008