I repeat the inexorable sagacity of the psalms
and I love the open gates in the face of the water’s strength

I try to understand my time
and the weightless intent of the poem

I have no other eyes or hands
you no longer show me the images
but I can see the ivies shaping their sombre
lips through interjection and breadth

I am just a throbbing mouth
a troubled volcano ground

water’s incessant countenance
before the doors I repeat

the tropes the audible readability of the place

I know that someone is always waiting
for the mature fruit
on the eve of the hand murky water
to the waist

I know that someone is always waiting
as if waiting
holding the glaive
for the windows to blossom

I know someone is always waiting for a poem

© Translated by Ana Hudson, 2013

 

repito a inexorável argúcia dos salmos

repito a inexorável argúcia dos salmos
e amo os portais abertos diante da força da água

tento compreender o meu tempo
e o imponderável intuito do poema

não tenho outros olhos nem outras mãos
já não me mostras imagens
mas eu vejo as heras fazendo lábios
sombrios por interjeição e bafo

sou só boca fremente
e a terra aflita dos vulcões

água rosto incessante
diante das portas repito

os tropos a sonora legibilidade do lugar

sei que alguém espera sempre
o fruto maturado
a véspera da mão a água turva
pela cintura

sei que alguém espera sempre
como se esperasse
de gládio em punho
o florescimento das janelas

sei que alguém espera sempre um poema

in o som e a casa, 2010