random clips for Velvet Underground

Poetry, sort of,
doesn’t need, I mean,
it’s not exactly a song, a square or a park in the autumn
clues, unicorns, a classical capital
helennistically erected under drizzle and neon

You used to sit over the Romans in the Library
that summer we chained god
to a Portland Road window grid
the year: 1967 and a few drinks too many

A prayer, it was said, slides like a loose stone down to
the Palladium; the spring after, you were reading semiotics
and learning to choose vegetables in the centre of Babylon
arm in arm with a friend, atonal, at first, then
walking down Avenue A

Duchamp became a sudden bit of purply silence
stuck to the foliage: frozen acacia in the morning of a small
New York garden

Drella said he was sick of painting and played
the sailor or the Etruscan bronze or the decapitated baroque
queen, while we slept tired from amputating
Nico’s petals, we slept

over the blood of one of Fellini’s characters and didn’t dream of
the dying warrior on the eastern pediment of the Aegina Temple –
fallen and smiling – or of the Benavente market

But poetry, sort of,
is an origami dragon, a zippo lighter
a guitar riff an adventure intermediate space
the sum of the parts their exclusion

Lying on the bed, a mirror between your legs
you pencil-drew your cunt on the back
of a restaurant menu

What shall I do now with the photos, the shoe- boxes
the sixties, the rotten pomegranate on the table-top, the city
of Damascus?

Much earlier on, I imagine, and long after
having harmonised the music and the poem the wall of sound
the tattooed Venus, the adequate vessel
the city crowned the wound as if all had
promoted the never ending
echo

Art, irony? by a fingernail, almost nothing
and we are left with something between the night and the sea
a taxi, the gin bottle, death
why not? rebuilding everything from there
an immense task

© Translated by Ana Hudson, 2010

 

I. Video art

planos soltos para Velvet Underground

A poesia, tipo,
não precisa de, bom,
não é exactamente uma canção, uma praça ou um parque no Outono
indícios, unicórnios, um capitel clássico
helenicamente erguido sob a librina e o néon

Costumavas sentar-te sobre os Romanos na Library
nesse Verão algemámos deus
ao gradeamento de uma janela em Portland Road
o ano: 1967 e uns copos a mais

Uma oração, dizia-se, desliza como pedra solta até
ao Palladium; na Primavera seguinte estudavas semiótica
e aprendias a escolher legumes no centro da Babilónia
com uma amiga pelo braço, atonal, primeiro, depois
descendo a Avenida A

Duchamp tornou-se uma súbita porção de silêncio arroxeado
colado à folhagem: acácia gelada na manhã de um jardim
pequeno em Nova Iorque

Drella dizia estar farto de pintura e brincava de
marinheiro ou bronze etrusco ou rainha barroca
decapitada, enquanto nós dormíamos cansados de amputar
as pétalas de Nico, dormíamos sobre

o sangue de uma figura de Fellini e não sonhávamos com
o guerreiro moribundo do frontão oriental do Templo de Égina –
caído e sorrindo – nem com o mercado de Benavente

Mas a poesia, tipo
é um dragão em origami, um isqueiro zippo
um riff de guitarra uma aventura espaço intermédio
a soma das partes a sua exclusão

Deitada sobre a cama, usando um espelho entre as pernas
desenhaste a cona a lápis, nas costas
de um menu de restaurante

Que faço agora com as fotografias, as caixas de sapatos
os anos sessenta, a romã podre sobre o tampo da mesa, a cidade
de Damasco?

Muito antes, suponho, e muito depois
de consoar a música o poema o receituário sonoplasta
a Vénus tatuada, o recipiente adequado
a cidade coroava a ferida como se tudo tivesse
promovido o eco
que não termina

A arte, a ironia? por um triz, quase nada
e resta-nos qualquer coisa entre a noite e o mar
um táxi, a garrafa de gin, a morte
porque não? refazendo tudo a partir daí
um trabalho imenso

in Santo subito, 2010