In six years time, you’ll be
little more than this: the bookmark
you signed, suddenly found again,
a sentence that could be a line
(‘I’ve never been able to love never’)
half way through a book and my life.
Let’s for once forget the misunderstandings,
the hurt wounded way
your lips touched the roll-up
paper – and got burnt (that same book
told me that the Sept 12, 1996 coach ticket
to Seixal didn’t make it as filter).
I’d turn elsewhere to ask if art can be the reason
for art, while jealousy (growing
in the dark) may perhaps strike the best pages.
Or I wouldn’t even do that: the morning outside
is a renewed promise of forsakenness
and I’ve just watched Mamma
Roma – another film, a whole life,
keeping us apart.
When, after all, nothing
of this nothing remains ‘as I sail out to die’
with the last memory of your name.

© Translated by Ana Hudson, 2010

 

Num livro de Dylan Thomas

Passados seis anos, pouco mais serás
do que isto: o marcador
que assinaste, subitamente descoberto,
uma frase que poderia ser um verso
(«nunca consegui amar nunca»)
a meio de um livro e da minha vida.
Esqueçamos, por esta vez, os desencontros,
a sombra magoada com que
os teus lábios pousaram sobre papel
de arroz – e arderam (o mesmo livro
me contou que não te serviu de filtro
o bilhete para o Seixal, 12 SET. 1996).
A outrem perguntaria se a arte pode ser razão
da arte, enquanto o ciúme (crescendo
no escuro) fulmina talvez as melhores páginas.
Ou nem isso faria: a manhã é lá fora
renovada promessa de abandono
e acabei agora mesmo de ver Mamma
Roma – mais um filme, a vida toda,
a separar-nos.
Quando afinal nada,
deste nada, ficará, «as I sail out to die»
com a última memória do teu nome.

in Blues for Mary Jane, 2004