with Unsuk Chin

Carroll’s soup
takes a bit
of everything:
it takes beasts
plants
chopped off
limbs
varied
legs
arms
all seasoned
very well indeed
with powders
that make you sneeze
teacups
and teapots
biscuits
still very very hot
and heads
of little girls
with dreams
planted on top
the girls
whirl
the girls
say
no
pull off
their dresses
don’t know
the colour of plants
don’t know
their secrets
don’t know
the future
and most of all
don’t know fear
the space is black
is deep
a well
made of stone
a narrow
gate
the key is not
in the soup
it lies in time
and time is
infinity
and for what
infinity is
there’s no answer
that is right
no matter what
you don’t wish for
the answers are
all the same
in one and all
foxy minds
so alike
it doesn’t matter
if the key
won’t fit the lock
this soup
is only a joke
we surely cannot
consume it
without indigestion
it was cooked
by the queen
who threw the dice
on the floor
hid the cards
in her hair
that is shaped
like a heart
her hand holds
a flamingo
smiling like
the cheshire cat
Carroll-rabbit
gave a warning
that time
was ticking on
what it tells
we don’t know
and we shall never
find out
but we can imagine
shouts
the bogey-man
Alice loses
her voice
searching
for a solution
and sobs
but in vain

© Translated by Ana Hudson, 2010

 

Na Sopa de Carroll

com Unsuk Chin

A sopa de Carroll
leva de tudo
um pouco:
leva bichos
leva plantas
leva membros
decepados
pernas
braços
variados
e muito bem
temperados
com pòzinhos
de espirrar
chávenas
e chaleiras
bolinhos
a fumegar
e cabeças
de meninas
onde os sonhos
são plantados
as meninas
rodopiam
as meninas
dizem
não
e arrancam
os vestidos
não sabem a côr
das plantas
não sabem
os seus segredos
não conhecem
os destinos
e muito menos
os medos
o espaço é negro
e profundo
um poço feito
de pedra
com um portão
pequenino
a chave não está
na sopa
está no tempo
e o tempo é
infinito
e o infinito
o que é
não há resposta
certeira
por muito que
não se queira
as respostas são
iguais
em toda a mente
matreira
tão iguais
que tanto faz
e a chave
não serve assim
esta sopa
é brincadeira
não a podemos
comer
sopa de indigestão
quem cozinha
é a rainha
atirou dados
ao chão
escondeu cartas
no cabelo
em forma de
coração
e na mão ergue
um flamingo
com o sorriso
do gato
Carroll-coelho
avisou
o tempo
está a contar
o que ele conta
não sabemos
nem dá para
adivinhar
podemos imaginar
grita
o homem-escuridão
Alice fica
sem fala
em busca de
solução
e soluça
mas em vão

in Outonais (poemas 2005-2010), unpublished
© Yvette K. Centeno