I read Rimbaud years ago perched on rocks, in the smoke house kitchen
Next to the chicken pen, under the quince tree, wandering
Dusty paths, sitting on stone walls,
Enjoying the sun, the impossible return, the blackberries that’ll come,
I never really pursued delicate ways, but my life, I’ve lost it already
I no longer believe I’m in hell, hell is in me
And it burns, it burns like the future of all fireworks,
Lifeless houses among the gorse, ill-fated for not having burnt,
Figs no one tasted in September’s sad and golden land
At this time of night I’ve never been seventeen, I was born in the mirror’s dread
I face other endings every day, beds of suffering I try to allay
With hands that anticipate verse only to excuse the soul’s burden
The chicken used to enjoy my close silent presence, gulping
Glass after glass of red from my dead grandfather’s vine, now both alike,
Perhaps I too one day, but I do nothing and now it’s already dark.
© Translated by Ana Hudson, Feb. 2020
No Galinheiro
Li há anos Rimbaud no cimo de fragas, na cozinha do fumeiro
Ao lado do galinheiro, debaixo do marmeleiro, caminhando
Em caminhos de pó, sentando-me nos muros de pedra,
Saboreando o sol, o regresso impossível, as amoras que virão,
Nunca fui muito delicado, mas a vida perdi-a já,
Agora não acredito que estou no inferno, ele está em mim
E arde, arde como o futuro de todos os fogos de artifício,
Canas inertes entre giestas que não tiveram a sorte do incêndio,
Figos que ninguém comeu, na terra dourada e triste de Setembro,
A estas horas nunca tive dezassete anos, nasci no horror do espelho,
Cada dia confronto outros fins, camas cheias de dor que tento aliviar
Com dedos que só esperam versos para desculpar o peso da alma,
As galinhas gostavam de me ter ali perto, silencioso, despejando
Copo atrás de copo de tinto da vinha do avô morto, agora ambos iguais,
Se calhar eu também um dia, mas eu nada e já é noite.
21.02.2020
Turku
© João Bosco da Silva