I’ve driven all night through a grainy landscape, on a motorway with dim and orangey lights. a cinematographic melancholy, impossible to explain without appealing to that particular technique of images, made me travel more miles than the ones needed to arrive home, instinctively, till the music was over, as one who possesses only an aesthetic purpose for his life and rapidly uses it up, aware that euphoria is the beginning of despondency. between the departures and the sleepiness through which I prevail, the route proceeds along an autumnal region where night fell early. amongst all the doors, only one leads to the sand onto which I became used to throwing my body, waiting for rescue or for dawn, whichever comes first, whatever your hands will offer for the rest of my days.
© Translated by Ana Hudson, 2011
conduzi toda a noite…
conduzi toda a noite por uma paisagem com grão, numa auto-estrada de luzes baças e alaranjadas. uma melancolia cinematográfica, que não é possível explicar sem recurso à própria técnica das imagens, fez-me percorrer mais quilómetros que os necessários para chegar a casa, com actos instintivos, até terminar a música, como quem possui apenas um fim estético para a vida e o gasta veloz, sabendo que a euforia é o princípio do desânimo. entre as partidas e o sono em que me venço, o caminho prolonga-se por um bairro de outono em que anoiteceu cedo. de todas as portas, apenas uma conduz ao areal onde me habituei a lançar o corpo, à espera da ronda dos salvados ou da aurora, o que chegar primeiro, o que as tuas mãos oferecerem pelo resto dos meus dias.
in Livre Arbítrio, 2009