Gods have done nothing to deserve us.
They haven’t even bothered
to save us
but died several times
and died as many times
in many languages and countries,
flowing
from plant to gardener
binding everything
in universal disharmony.

Tired of converting heathens,
of seeing their lives exposed
in sacred texts,
of bestowing favours
in exchange of prayers and flowers,
of being invoked in black masses and
black metal concerts,
smoked in the tropics,
possessed by shamans in the vast
Northern regions,
sought for in the mountain heights
of Nepal,
sold in suburban temples,
tucked into wall shrines,
tired of being made into idols with our feet of clay
that stagger through churches
or being taken for creators of matter
(when only spirit
could explain them),
they’ve forsaken the world
and the words,
they’ve released statements denying
any involvement
in suicide bomb attacks,
in heavenly condominium management
(comes with ten thousand virgins),
in USA presidential pledges,
in the unfulfilled promises
of a New Jerusalem
or in the election of any particular
people.

Created in our image
they rebelled against us.

Weak as we are, we forgive their revolt.

Guilty as we are of having created them.

© Translated by Ana Hudson, 2011

 

O fantasma de Nietzsche aparece no meu quarto e fala

Nada fizeram por merecer-nos, os deuses.
Não se deram sequer ao trabalho
de nos salvar,
mas morreram várias vezes
e morreram outras tantas
em muitas línguas e países,
ou circularam
da planta ao jardineiro
tudo ligando
em universal desarmonia.

Cansados de converter os gentios,
de verem expostas suas vidas
em textos sagrados,
fartos de prestarem favores
a troco de rezas e flores,
invocados em missas negras e concertos
de black metal,
fumados nos trópicos,
possuídos por xamãs nas vastas regiões
do Norte,
procurados no alto das montanhas
do Nepal,
vendidos em templos de arrabalde,
arrumados em nichos,
feitos ídolos com nossos pés de barro
a fraquejar nas igrejas
ou tomados por autores da matéria
(quando só o espírito
os podia explicar),
desvincularam-se do mundo
e das palavras,
emitiram comunicados em que negaram
qualquer envolvimento
em ataques de bombistas suicidas,
na gestão de um condomínio no céu
(equipado com dez mil virgens),
nos juramentos do presidente dos E.U.A.,
nas promessas não cumpridas
de uma Nova Jerusalém
ou na eleição de qualquer povo
em particular.

Criados à nossa semelhança
contra nós se revoltaram.

E nós, fracos, a revolta lhes perdoamos.

Nossa a culpa de os ter criado.

Revólver, 2006