Nothing exists that hasn’t had a beginning.
Even in the distance, a clear lit speck,
in territories stripped from all limits, on
sands that flow from unknown seas,
we only contemplate the extent of what we perceived.
If fields in livonia lead to fields in masuria,
if tiles are smoothed in tepid bath waters,
and further on graveyard follows graveyard, and
in their midst, inert in the lack of wind, the birch wood stands,
if the sun is the flame of the olive oil crumbling the bread
or the chipped lightening on the walls of helsingør,
if the death plot is everywhere the same,
be it in the santa maria flute or in the tallinn concertina
it is because we modulate in one place what has seeped from another.
Even unwillingly, or perhaps it’s the shadows on the move,
we weave no more than a row of chances and discretions
along a current which takes each one of us, separately,
to the most sensitive final passage.
Even if laboriously we detach the places,
detailing their diversions and extremes
– the similarity between what they are and what we thought they were,
even throughout regions intersected by extensive trains,
where night will fall in scales of lavender,
we’ll follow the same story – we sink our feet in the same mud.
In that which repeatedly sucks us in,
as we yearn for whatever comes to pass further in the next cove
smoothing with our hands the oak trees on whose bark we inscribe,
like others before us, our sinuous names, our loves,
we constantly return to the point where all is repeated and begun,
of which we grasp a mere minute – an instant,
the blade mediating between this year and the next.
© Translated by Ana Hudson, 2011
Nada existe…
Nada existe que não tivesse começado.
Mesmo na lonjura, decisiva porção iluminada,
em territórios despojados de todo o fim, em
areais de mares a desaguar desconhecidamente,
mais não olhamos senão a extensão do que vimos.
Se campos da livónia vão dar a campos da mazúria,
se mosaicos amaciam na água de banhos mornos,
e além houver só cemitérios seguindo cemitérios, e
a meio deles, parado sem vento, o bosque de bétulas,
se o sol é o lume do azeite a esmiolar o pão
ou o clarão lascado nas muralhas de helsingor,
se o enredo da morte é igual em toda a parte,
seja na flauta de santa maria ou no gaiteiro de tallinn,
é porque modulamos num lugar o que lastrou de outro.
Mesmo sem querer, ou sejam sombras afastando-se,
mais não tecemos que a linha de acasos e acertos
que uma corrente conduz, a cada um, em separado,
à passagem mais sensível do acabamento.
Mesmo isolando os lugares numa função laboriosa,
detalhando as suas divergências, e as pontas extremas
— a parecença entre o que são e o que pensámos serem,
mesmo nas regiões cruzadas por comboios extensos,
onde a noite cairá em escamas de lavanda,
seguiremos a mesma história — afundamos os pés no mesmo solo.
Naquilo por que vamos repetidamente levados,
ansiando o que se manifeste acolá na próxima enseada,
alisando com a mão os castanheiros onde inscrevemos, depois
de outros, nossos sinuosos nomes, nossos amores,
sempre tornamos ao ponto em que tudo se repete e inicia,
de que atingimos apenas um minuto só — um instante,
a lâmina que medeia o ano que passa e o ano que vem.
in A Ordem do Mundo, 2005