Old men sit on this bench
figuring out the weather, leaning against
an even older, dark gable. Hidden
in the shade, I too have left behind
the light of the dunes. The eyes painting
in blind colours that place where joy was
undone, a story of mislaid waters at the heart
of the earth. The end of one’s love is like a dream.
Still now the cigarette smoke tastes
better when the morning breathes
after serene sleep. In its funnel radiant filings
show how one falls into the black limbo of the horizon,
into the thickness of the river after dusk.
Yes, I knew too late what I could have said
about my life, my mouth locked in chains
and rags, I was plainly dead.
Like the old men still sitting on this bench
I wake up in time to buy some bread
and wipe your face from my past, a shattered promise,
a grain of youth which guides me like a faint light
only kept in the wind of these words.
© Translated by Ana Hudson, 2010
O tempo que faz
Os velhos sentam-se neste banco
a avaliar o tempo que faz encostados a uma empena
escura, mais antiga do que eles. Também eu,
escondido na sombra, deixei para trás
a luz das dunas. A visão pinta com cores cegas
o lugar onde a alegria se desfez, uma história
de águas perdidas no coração da terra.
O fim de um amor é como um sonho.
Ainda hoje o fumo dos cigarros me sabe
melhor pelo sopro da manhã
depois de um sono sereno. As limalhas radiantes
no túnel mostram como se cai no limbo negro do horizonte,
no rio espesso após o crepúsculo.
Sim, soube tarde de mais o que podia dizer
da minha vida, com a boca fechada por correntes
e trapos estava simplesmente morto.
Como os velhos que continuam sentados neste banco
acordo a tempo de comprar algum pão
e varrer do passado o teu rosto, uma promessa estilhaçada,
um grão de juventude que me guia com uma pequena luz
que só no vento destas palavras se mantém.
in Entre a Carne e o Osso, 2012