In everything there’s a more-than-thing
staring at us as if saying: ‘It’s me’,
something that’s no longer there or was lost
prior to the thing, and that loss is the thing.

In certain high, absolute afternoons
when at last the world welcomes us
as if we too were the world,
our own absence is a thing.

Then the house awakens and the books imagine us
on the scale of their own loneliness.
Once we too had a name
but, if ever we heard it, we did not recognise it.

© Translated by Ana Hudson, 2011

 

As coisas

Há em todas as coisas uma mais-que-coisa
fitando-nos como se dissesse: “Sou eu”,
algo que já lá não está ou se perdeu
antes da coisa, e essa perda é que é a coisa.

Em certas tardes altas, absolutas,
quando o mundo por fim nos recebe
como se também nós fôssemos mundo,
a nossa própria ausência é uma coisa.

Então acorda a casa e os livros imaginam-nos
do tamanho da sua solidão.
Também nós um dia tivemos um nome
mas, se alguma vez o ouvimos, não o reconhecemos.

in Como se desenha uma casa, 2011