Woldgate Woods

To Ana H.

In the beginning nothing is there, but there is also everything:
an entire life has to be lived so we may understand
that true colours are not conjured
by an artist’s eyes.  He walks the streets
of his pictured childhood despite the time
gone by and the trunk that grew against the seasons
in other places.  His space belongs to us all –
life is a real drawing that walks
our path.  Are we but a another object
colouring the colourless day?  Is it too much to ask
being reminded of brushes and paint?  At the end of our lives,
we’ll be surrounded by all forests, and their felled trunks
will be the dead reflections of what we were on the side of a road
too wide for the longer stride,
too short for the passing of time.

© Translated by Ana Hudson, 2012

 

 

Woldgate Woods

Para Ana H.

No princípio não está nada, mas também está tudo:
É preciso viver toda uma vida para perceber
que as verdadeiras cores não são inventadas
pelos olhos de um artista. Ele percorre as ruas da
sua infância imaginada mesmo quando o tempo
passou e o tronco cresceu contra as estações,
noutras paragens. O seu espaço é o de todos nós –
a vida é um desenho animado que percorre
o caminho connosco. Seremos apenas mais um objecto
que dá cor ao daltónico tom do dia? Será pedir muito
que nos lembrem dos pincéis, da tinta? No fim da vida,
todas as florestas irão cercar-nos e os seus troncos cortados
os mortos reflexos de quem fomos, à beira da própria estrada –
demasiado larga para passadas longas,
demasiado pequena quando era o tempo que se gastava.

2012, inédito

© Ricardo Marques