Ways in, ways out, borders, superimposed blades
over the dense fabric of night.

A man sleeps, the skies move
over the Atlantic, more nocturnal than the sleep

that obscures the recognised image
of his mind moved by death – ‘my death’,

he must have sung for decades –
more nocturnal than the bark of trees

painted in black crayon by the impenitent
drawers of trees that our sons are,

more nocturnal than this fluid theatre
running through images, through irreversible time,

the one, where, in its flashing core, our lives burn,
more tuneful than the precise register of the vague music sheets

from which the mind has extracted words since the first beginning.
A peacock opens the blue of the mind, mirrors it,

then screams. Ways in, ways out, borders,
blades of extreme and difficult perfection are exposed.

A man sleeps. The skies travel.

© Translated by Ana Hudson, 2010

 

XXVI

Entradas, saídas, fronteiras, lâminas sobrepostas
sobre o tecido denso da noite.

Um homem adormece, os céus deslocam-se
sobre o Atlântico, mais nocturnos que o sono

que lhe embaraça a reconhecida imagem
da sua mente comovida pela morte – «a minha morte»,

terá ele cantado por décadas -,
mais nocturnos que a casca das árvores

a lápis de cera negro pintada pelos impenitentes
desenhadores de árvores que são os filhos,

mais nocturnos que este líquido teatro
percorrendo as imagens, o irreversível tempo,

esse, onde, no interior veloz, se queimam as nossas vidas,
mais musicais que o preciso registo da vaga pauta

de onde a mente retira palavras desde o início antigo.
Um pavão abre o azul da mente, espelha-a,

e depois grita. Entradas e saídas, fronteiras,
lâminas de uma perfeição extrema e difícil expõem-se.

Um homem adormece. Os céus viajam.

in Riscava a Palavra Dor No Quadro Negro, 2010