dear Sylvia Plath one day I knew I would write
about you I collected you or at least I knew your type
figured you out at once in the photograph
lovely pin-up with the coy under-lip who (in case it were
wondered what you’d become in life) would wittily reply
I’ll be a poet and famous I don’t wish to be I will
be as if saying were already achieving as
if the given word could not
reconsider. mistake.

the everyday search for awe curtailed
by every other morning depression
alarm clock shaking up the sleep the badly
disguised pleasure of routine followed
by an appetiser served with the obsequious grace of wonder
woman home goddess clever spouse
and afterwards whole afternoons invoking in vain the spared
pennies of poetry
and then sudden cravings for sanguine violence
and then nothing paralysis.

oh the cosmic anguish the fine trumpery with which
you replaced the usual petty resentment
of literary fortunes damn it Sylvia
frankly the uselessness of probing the depths
of the promising young precociously
dead.
Impossible to retreat Et pourtant you’ll say
we always retreat only pursuing
the ones following us the precursors who
with poetical sententious hinting
from their high cerulean areopagus
shoot us down.

Ted
and Ted Ted Ted Ted Ted Ted Ted
the enigma which as rumour has it
perfected the art you would master
till one day you stopped rehearsing
Ted the man lover prodigal magnanimous
intellectual titan sentimental scavenger
of affection,

or the fatal attraction of similar animals
when the hunting noose is the disavowing look
of the likeness in the mirror,

helplessly striking unawares
with ferocious voracity the Lucidity
our luscious lady lazarus
of poetry stepping along the via dolorosa
Sylvia word-swinger paralytic
somersault,

may you depart in peace and rest eternally
for I shall hold the ground and raise my bow

powerful weapon that I hurl
this word-
-sling
of acknowledgement.

© Translation by Margarida Vale de Gato

 

Reconhecimento

querida Sylvia Plath ainda um dia havia de escrever
sobre ti coleccionei-te ou pelo menos conheci
o tipo fisguei-te logo na fotografia de jovem pin-up
provocadora álacre que (se acaso te aludiam
ao que serias na vida) com graça respondias
serei poeta e célebre não quero ser serei
como se dizer fosse já concretizá-lo como
se a promessa dada da palavra não pudesse
reconsiderar. engano.

a procura quotidiana do assombro regulado
por depressões intercalares matinais
despertadores sacudindo o sono o mal
disfarçado prazer da rotina seguido
de aperitivo servido com mordomias de mulher
maravilha fada do lar arguta companheira
e depois tardes inteiras invocando em vão as parcas
economias da poesia
e depois súbitas ganas de violência sanguínea
e depois nada paralisia.

ó a cósmica angústia que grandiloquente
substituías ao comezinho azedume
da fortuna literária dane-se Sylvia
francamente inútil sondar o poço
da promissora adolescente prematuramente
morta.
Impossível recuar Et pourtant dirás
recuamos sempre perseguimos só
os que vão atrás de nós os precursores
que de seu alto cerúleo areópago
com sentencioso alvitre de poetas
nos cilindram.

Ted
e Ted Ted Ted Ted Ted Ted Ted
o enigma que dizem as más línguas
apurou a arte em que serias exímia
até um dia teres deixado de ensaiar
Ted o esposo o amante o pródigo magnânimo
titã intelectual sentimental necrófago
do afecto,

ou a fatal atracção dos animais que se semelham
quando o laço que caça é o olhar reprovador
do retrato ao espelho,

de chofre sem apelo fulminante
de feroz voracidade a Lucidez
lucíssima senhora lázaro
dos passos da poesia pela via dolorosa
Sylvia paralítica da palavra-salto sobres-
salto,

repousa lá em paz eternamente
e viva eu cá na guerra de arco em riste.

poderosa arma de conhecimento esta
palavra-
-funda
palavra de arremesso.

in Mulher ao Mar, 2010