Lisbon is not Alexandria but then
Alexandria is only a metropolis
heightened and exalted in verse, its geometry,
its incisions of small despair.
Give me a city, for this which is mine
is tired and I don’t want any other,
give me steps always going down,
old palace balconies,
give me an Alexandria of thought,
with an antiquity that gilds every hour,
every afternoon, but a false,
hyperbolic antiquity,
subtle from being so often imagined, unreal city.
Lisbon is not Alexandria and is tired, there
were places I knew, others hidden,
there are routes I conjecture as the crowds
advance, feast days,
window settings, sills.
I don’t want this river, nor that other,
the Heraclytian one, offered to me
in some abridged complete works on the bookshelf.
Give me an earthly city, without posterity
or tongue, a city where I may
open the past of its streets
and, with no other purpose, breathe.

© Translated by Ana Hudson, 2011

 

Alexandria

Lisboa não é Alexandria mas
Alexandria não passa de uma metrópole
em versos subida e sublimada, a sua geometria,
as incisões do pequeno desespero.
Dêem-me uma cidade, que esta minha
está cansada e não quero outra,
escadarias em que se desce sempre,
velhas varandas apalaçadas,
dêem-me uma Alexandria do pensamento,
com uma antiguidade a dourar cada hora,
cada entardecer, mas uma antiguidade
falsa, hiperbólica,
subtil de tão imaginada, unreal city.
Lisboa não é Alexandria e está cansada, houve sítios
que conheci, outros ocultos,
percursos que adivinho no avanço
das multidões, dias de festa,
lambris de janelas, amuradas.
Não quero este rio, nem o outro,
heraclitiano, que me oferecem
umas breves obras completas na estante.
Dêem-me uma cidade terrestre, sem posteridade
ou idioma, uma cidade para que eu possa
inaugurar o passado das ruas
e, sem outro propósito, respirar.

in Menos por Menos – Poemas Escolhidos, 2011