there’s no need to tell, you know me
I lack a sure course, I find amusement on the treetops
blowing thoughts into the world under the spell of night.
people are other as they wake, you knew that already,
this contemporary misting of niggly fear
we mislay in cities and bodies, you joined
the game ahead of me, the music’s sulphur and the
bewitchment of the lake, brief innocent man who dreams
as well you know.
Then I hired the witch for a vast black night.
and my life changed, the night grew longer,
the vertigo burned into my arms till they bled
of tedium when I thought you’d be lost forever.
In the struggle I shed an arm or two,
more than I had. but this memory is a palace,
corals of the mind. gardens and ghosts,
profound and stratospheric child drinking
from the blade in its hands: no arms and now nothing.
you didn’t understand me, I let the furies loose.
it’s an art, I meant to say, killing without recall
or delay – ah those arms to stay the hands –,
without the hoarse fear without ground that is sparse.
reaping. saturn. and. the. wind. on. the. prow. lifting.
the: ship: over: the: sea: still: completely.
still. how shall I say? not to say, I am. a dreadful
and multiple life. And now I rest
lying on these hands that move
unsupported, you know, that rise from your eyes
in the morning.

© Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2012

 

Autobiografia

não preciso mas tu sabes como eu sou
encaminho-me pouco divirto-me assim nas copas
das árvores soprando pensamentos para o mundo que há de noite.
as pessoas quando acordam são outras, já sabias,
essa névoa contemporânea do medo miudinho
que perdemos nas cidades e nos corpos, tu entraste
antes de mim nos jogos, o enxofre da música e o
lago do feitiço, inocente homem breve que sonha
tu bem sabes.
Depois aluguei a bruxa por uma vasta noite.
e a minha vida mudou, a noite cresceu,
a vertigem ardeu-me nos braços até a sangria
do tédio quando para sempre julguei que te perdia.
Na luta perdi um ou dois braços,
mais do que o que tinha. mas esta memória é um palácio,
são corais no pensamento. jardins e fantasmas,
o gume nas mãos sorvendo, criança estratosférica
e profunda: sem braços e agora sem mais nada.
não me percebeste, enchi-me de fúria.
é uma arte, queria eu dizer, matar sem retrocesso e
atraso – ah aqueles braços para apoiar as mãos –,
sem o medo rouco sem o chão que é pouco.
ceifando. saturno. e. o.vento. na. proa. erguendo.
o: navio: no: mar: parado: parado: completamente.
parado. como dizer? não dizer, eu sou. uma vida
medonha e múltipla. E agora descanso
deitado nestas mãos que mexem
sem apoio, sabes, nascendo dos teus olhos
pla manhã.

in A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, 2005