You should not open closed
drawers: they were locked for a reason,
having now found
the key is a happenstance you can ignore.
You know what you’ll find inside drawers:
lies. Many paper lies,
photographs, things.
Drawers are home to the world’s
imperfection, the unalterable imperfection,
the sorrow that repeatedly feeds your disillusion.
Drawers have always been packed
by people as weak as you
and locked by someone wiser than you.
A month ago, never mind a century.

© Translated by Ana Hudson, 2011

 

As gavetas

Não deves abrir as gavetas
fechadas: por alguma razão as trancaram,
e teres descoberto agora
a chave é um acaso que podes ignorar.
Dentro das gavetas sabes o que encontras:
mentiras. Muitas mentiras de papel,
fotografias, objectos.
Dentro das gavetas está a imperfeição
do mundo, a inalterável imperfeição,
a mágoa com que repetidamente te desiludes.
As gavetas foram sendo preenchidas
por gente tão fraca como tu
e foram fechadas por alguém mais sábio que tu.
Há um mês ou um século, não importa.

in Menos por Menos – Poemas Escolhidos, 2011