We meet the family at funerals.
We’re never as transparent
as when we mourn
and tell measured anecdotes
recalling the deceased.
What blood runs here
that mine may resemble?
Some of the old people bring the flowers
they already gave at weddings
and among them they decide
we are a family,
they know the cousins I don’t
know, regret the fate
of those whose story is known,
they are even graver
than us, and use
endearing terms.
My name will turn to dust
with my body, a widowed
woman is thinking,
there are siblings who are completely silent
and children who play blindman’s buff.
We follow the cortege
straightening our ties,
the wind can’t tell that someone has died.
Ten people keep up with the priest,
the others can no longer remember
the prayers,
ten people think about
what they are facing,
the others follow the coffin.
Soon enough
the younger will bury
the older digger.
© Translated by Ana Hudson, 2011
Funerais
Nos funerais encontramos a família.
Nunca fomos tão claros
como no luto
e nas memórias anedóticas
que amenizam o morto.
Que sangue é o teu
para que o meu se assemelhe?
Alguns velhos trazem flores
que já ofereceram nos casamentos
e entre eles decidem
que somos uma família,
conhecem os primos que não
conheço, lamentam a sorte
daqueles cuja sorte é conhecida,
são ainda mais graves
do que nós, e usam
diminutivos carinhosos.
O meu nome far-se-á pó
com o meu corpo, pensa
uma mulher que já é viúva,
há irmãos completamente mudos.
e as crianças jogam à cabra-cega.
Seguimos em cortejo
compondo as gravatas,
o vento não percebe que morreu gente.
Dez pessoas acompanham o padre,
os outros já não se lembram
das orações,
dez pessoas pensam
no que têm pela frente,
os outros acompanham o caixão.
O coveiro mais novo
dentro de pouco tempo
enterrará o mais velho.
in Menos por Menos – Poemas Escolhidos, 2011