I.
Like Morphine, I take away the pain from man
Whoever stares into my eyes will no longer be free
I’m the most beautiful woman in all mythologies
Paradise on earth – the most dangerous of all,
I’m creative madness
Patricia, the Sister of God
My sons are all things, all possibilities
my daughters
I induce the most complex suicides,
Give and take life and don’t think it good or bad because I’m
a flower and flowers are without judgement – they’re indifferent and sad
I advise the German romantics to take up
arms and fight for useless causes. I stuff powder
into their guns,
Provoke in them the Greatest pleasures
I’m made of flesh and blood and not of light –
I’m Our Lady of the North Pole
seeing sun drip on the ice:
II.
I’m the dream of a camel with special needs,
the delirium of the Siamese twin girls
the nightmare of four newborn giraffes
Paralysis is the opposite of God – you said
Beneath my skirts, I stroke your head –
I’m the ashes of a dictator in the beak of a flying raven
all quince paste sellers along the Iraqi border
Beneath my skirts – I love you like a lunatic
III.
I’m the possibility – in my mouth oxen till the land,
Leaving their hooves’ Carolingian marks
The plough writes a Petrarchan rhyme on my tongue
In Carolingian script of the most perfect calligraphy
I write that I adore you in fluorescent new metre
The tulle-dressed papist fairies Smear their faces with jelly and jam
Dreams: the sweetest, such as
Africa has broken in half
in my mouth the whole of Africa
Link, link, link, link
IV.
The fear of being alone, with the goddess of fertility gnawing at my
uterus
The most profound desires – of a crane driver
Mouth full of snow The hair burning to the sound of music –
red hair – the headphones!
The clouds in the dream are less beautiful
Snowflakes in Brussels, the angels warm up
Every day I drive on a silver motorway that runs till the
centre of your soul
There’s pleasure in each atom,
in each atom – the universe
The bakers knead dough across the whole of Hungary
in Upper Hungary and in Lower Hungary
Tomorrow the Hungarian children, the greediest –
the Hungarian bakers, the saddest
– Look me in the eye
my eyes are sad, you said:
The saddest of all
© Translated by Ana Hudson, 2011
Delírio Húngaro
I.
Tal como a Morfina, tiro a dor ao homem
Quem me olha nos olhos nunca mais será livre
Sou a mulher mais bela de todas as mitologias
Sou o paraíso em vida – o mais perigoso de todos,
Sou loucura criadora
Patrícia, a Irmã de Deus
Os meus filhos são todas as coisas, todas as possibilidades
minhas filhas
Induzo os mais complexos suicídios,
Dou a vida e tiro a vida e não acho isso bem nem mal porque sou
uma flor e as flores não julgam – são indiferentes e tristes
Aconselho os românticos alemães a pegarem nas suas
espingardas e a lutarem por causas inúteis. Meto-lhes pólvora
nas armas,
Provoco-lhes os Maiores prazeres
Sou feita de carne e não de luz –
Sou Nossa Senhora do Pólo Norte
a ver o sol pingar sobre o gelo:
II.
Sou o sonho de um camelo deficiente,
o delírio das gémeas siameses
o pesadelo de quatro girafas recém-nascidas
A paralisia é o contrário de Deus – dizias
Por baixo das minhas saias, afago-te a cabeça –
Sou as cinzas de um ditador a voar no bico de um corvo
todos os vendedores de marmelada na fronteira do Iraque
Por baixo das minhas saias – Amo-te como uma perdida
III.
Sou a possibilidade – na minha boca os bois lavram os campos,
Deixam as marcas carolinas das suas patas
O arado escreve na minha língua uma rima de Petrarca
Em letra carolina da mais perfeita caligrafia
Escrevo que te adoro em fluorescente métrica nova
As fadas papistas de tule Lambuzam-se de geleia e compotas
Sonhos: os mais doces, por exemplo
África partiu-se ao meio
na minha boca África inteira
Link, link, link, link
IV.
O medo de ficar sozinha, com a deusa da fertilidade a roer-me o
útero
Os desejos mais fundos – de um operador de gruas
A boca cheia de neve Os cabelos a arder ao som da música –
ruivos – os phones !
As nuvens do sonho são menos bonitas
Flocos de neve em Bruxelas, os anjos aquecem-se
Percorro todos os dias uma auto-estrada de prata que vai até ao
centro da tua alma
O prazer está em cada átomo,
em cada átomo – o universo
Os pasteleiros batem a massa em toda a Hungria
na Alta Hungria e na Baixa Hungria
Amanhã os meninos húngaros, os mais gulosos –
os pasteleiros húngaros, os mais tristes
– Olha para mim nos olhos
tenho os olhos tristes, dizias:
Os mais tristes de todos
in Delírio Húngaro, 2009