i know the olive tree has been there
since the beginning of the world, inhabiting time
and intertwined with time, waiting for you.

i know the clouds are darkening in lilac and decide
to go on their slow rounds along the almost imperceptible
borders of sunset. i know you feel it must be so.

i know we can hear the irregular breath of the northwest
and what its saline syllables say, prolonging the shells and the resonance
echoing from the sea, while the colour of the clouds

will morosely turn from lilac into the mother-of-pearl of night
and we’ll hold hands in this atlantic silence. and i also know the wind
will slightly shiver as it summons the feeling gods

to that sacred tree whose greyish green foliage
will shudder from the stridency of the cicadas,
its companions since the warm beginning of the world,

of this world, yours and mine, now discovered, or yet to be reinvented
in a wisdom undergoing turmoil
in a tenderness verging on incandescence,

in a source of pure joy to which we’ll be giving various names,
things of the soul pledged to freedom
and to fantastic lunations and climbers.

i know how jasmine and honeysuckle rise
and how summer scents are tangled in dreams
around their delicate stems, in the twilight

musical root of dreams. i know i can find you there.

© Translated by Ana Hudson, 2010

 

na raiz dos sonhos

sei que aquela oliveira está ali
desde o princípio do mundo, habitando o tempo
e enredada no tempo à tua espera.

sei que as nuvens são de lilás escurecendo e resolvem
passar em ronda lenta nas fronteiras já imperceptíveis
do pôr do sol. sei que pressentes que assim terá de ser.

sei que ouvimos o sopro irregular do que diz o noroeste
de sílabas salinas, prolongando os búzios e as ressonâncias
onde ecoa o mar, enquanto a cor das nuvens

for passando morosa do lilás às madrepérolas da noite
e nós dermos as mãos nesse silêncio atlântico. e ainda sei que o vento
se arrepia ao de leve convocando os deuses comovidos

para essa árvore sagrada em que estremece
uma folhagem verde-cinza de estrídulas cigarras
que a acompanham desde o quente começo do mundo,

deste mundo, teu e meu, agora descoberto, ou a reinventar
numa sageza ainda assim sobressaltada,
numa ternura à beira da incandescência,

num princípio de pura alegria a que iremos dando vários nomes,
coisas da alma empenhada na sua liberdade
e em fantásticas lunações e trepadeiras.

sei como sobem jasmins e madressilvas
e as essências do verão em seus caules delicados
emaranhando-se nos sonhos, na raiz crepuscular

e musical dos sonhos. sei que te encontro aí.

in O Caderno da Casa das Nuvens, 2010