From Lisbon: an unfinished song, revisited, in the distance the Tagus
the body is a distant lost city
João Miguel Fernandes Jorge
The loneliness of the afternoon sets out what Lisbon
carries in its encamped promontory:
half faces in cadenzas of backlighting
awnings axing sunlight on the esplanades,
piled up walls, windows and ironwork
spilling down to the Tagus
where the city’s voices drown.
Will it be worth the physical roar of this silence?
The shadows that defeat what we’ve just
told ourselves, and ease this closeness
while the light dresses up for leaving us?
On the city’s side, houses, streets, the river.
On our side, what we feel, voiceless, restless,
will build the deafness of what is left to us,
and even more, deadly, a tautology.
© Translated by Ana Hudson, 2010
Inédito
De Lisboa: uma canção inacabada com revisitação e Tejo ao fundo
o corpo é uma longínqua perdida cidade
João Miguel Fernandes Jorge
A solidão da tarde inicia o que Lisboa
traz de acantonado promontório:
meios rostos em cadência de contra-luz
lonas lancetando o sol nas esplanadas,
amontoados de paredes, janelas e ferros
que descambam até ao Tejo
onde se afogam as vozes da cidade.
Valerá o estrondo material deste silêncio?
As sombras que declinam o que aqui acabamos
de nos dizer e atenuam esta proximidade
enquanto a luz se veste para nos deixar.
Pelo lado da cidade, as casas, as ruas, o rio.
Pelo nosso, o que sentimos, sem voz, sem paz,
formarão a surdez daquilo que nos sobra,
e mais ainda, mortalmente, uma tautologia.
Unpublished, 2010