The light crossing the room between
the two windows is always the same, although
on one side it’s west – where the sun is now – and on
the other it’s east – where the sun has already been. In the room
west and east meet, and it is this light
that makes my gaze uncertain for not knowing
which hour held the first light. Then I look at the thread
of light stretched between both windows, as if
it had no beginning and no end; and
I start pulling it inwards into
the room, winding it up, as if I could
use it to tie up both ends
of the day into midday, and let the time be
stopped between two windows, west
and east, until the thread
unwinds, and everything
begins all over again.
© Translated by Ana Hudson, 2009
A luz de Lisboa
A luz atravessa o quarto entre
as duas janelas, e é sempre a mesma luz, embora
de um lado seja o poente – onde está o sol, agora – e do outro
o nascente – onde o sol já esteve. No quarto
juntam-se poente e nascente, e é esta
luz que confunde o olhar, que não sabe em que
hora se situa a luz primeira. Então, olho a linha
que percorre o espaço entre as duas janelas,
como se não tivesse princípio nem fim; e
o que faço é puxar essa linha para dentro
do quarto, e enrolá-la, como se me
pudesse servir dela para atar as duas extremidades
do dia ao meio-dia, e deixar que o tempo fique
parado entre duas janelas, a poente
e a nascente, até que o fio se volte
a desenrolar, e tudo
recomece.
in A Matéria do Poema, 2008