I love the people who live in my building.
It’s a tall building with lifts. It’s better that way, no one
has to carry anyone on their backs. What I mean is they
could also walk up on their own two feet, but that would be the case only if
in my building there weren’t people in need of favours. But there are,
and afterwards they turn their backs on repaying the climb – I heard
there are people in the building who have forests from Normandy at home (I
only have weeds!). And the building’s lifts break down constantly.
They break down and then the people on the upper floors
need carriers. The people on lower floors
have started to be born with broader shoulders
so their carrying improves, and now the lifts
are almost always broken. I’m lucky because they know
I only keep weeds at home. They never ask me
to carry anything nor do they park new trees
to bar my doorway; they are all scared of being contaminated.
Nowadays, the people on the upper floors beg favours
of me: could I possibly move house, building, they would even
give me a house with a Normandy forest inside.
But I don’t want to. I like it here. My weeds
now reach the first floor. Sometimes I climb up them
and am invited to dinner. We talk and laugh and when
we stop the silence around us grows.
Until now my weeds have stayed fresh, they climb on their own.

© Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2012

 

Manifesto

Eu gosto muito dos senhores que moram no meu prédio.
O prédio é alto e tem elevadores. Assim é melhor porque ninguém
tem que carregar ninguém às costas. Quer dizer, as pessoas
também podiam ir pelo seu próprio pé mas isso era se não houvesse
pessoas no meu prédio que precisam de favores. Precisam,
e depois pagam com as costas na subida – Ouvi dizer que há
pessoas no meu prédio que têm em casa florestas normandas (eu
cá só ervas daninhas!). É que o elevador do meu prédio avaria
muitas vezes. Avaria, e depois os senhores dos andares de cima
precisam de carregadores. As pessoas dos andares de baixo
começaram a nascer todos os dias com as costas mais
largas para poderem carregar melhor, e agora o elevador
avaria quase sempre. A minha sorte é eles saberem que
eu só tenho em casa ervas daninhas. Nunca me pedem para
os carregar nem sequer estacionam as suas árvores novas
a barrar-me a entrada de casa: têm medo de ser contaminados.
Agora são os senhores dos andares de cima que me pedem
favores: se posso mudar de casa, de prédio, que até me
oferecem uma casa com florestas normandas lá dentro.
Mas eu não quero. Estou bem aqui. As minhas ervas
chegam já ao primeiro andar. Às vezes subo por elas
e convidam-me para jantar. Falamos e rimos e quando
nos calamos o silêncio à volta é maior.
Até agora cresceram sempre frescas pelo seu pé acima.

in O Pequeno-almoço de Carla Bruni, 2009