Lend me words for the poem; or give me
syllables on credit, so I can invest them
in the market. But the price of metaphor is up,
restricting me to simple images, the cheapest,
those nobody wants: a flower? The smell
of the countryside? Waves that break, one after the other,
without asking for interest from onlookers?
The cost of words is high. I leaf through dictionaries
in search of small words, those costing less
to pay back, so I’m not asked for reimbursement
if I place them, at random, at the end of the line. The
problem is that for rhymes I´ll be charged twice as much
and no matter where I look whatever’s on offer
I can’t afford, when it comes to the crunch.
And when it comes time to pay back,
what then would the rates be? I open my wallet,
turn my pockets inside out, look at the balance, it’s all empty:
symbols, zero; allegories, sold out; metaphors, not even one.
Whom shall I ask for help? What fund of poetic emergency
will rescue me? In the end, there’s one syllable left – air –
I’ve got it and no one can prevent me breathing.
© Translated by Ana Hudson, 2011
A pressão dos mercados
Emprestem-me palavras para o poema; ou dêem-me
sílabas a crédito, para que as ponha a render
no mercado. Mas sobem-me a cotação da metáfora,
para que me limite a imagens simples, as mais
baratas, as que ninguém quer: uma flor? Um perfume
do campo? Aquelas ondas que rebentam, umas
atrás da outras, sem pedir juros a quem as vê?
É que as palavras estão caras. Folheio dicionários
em busca de palavras pequenas, as que custem
menos a pagar, para que não exijam reembolsos
se as meter, ao desbarato, no fim do verso. O
problema é que as rimas me irão custar o dobro,
e por muito que corra os mercados o que me
propõem está acima das minhas posses, sem recobro.
E quando me vierem pedir o que tenho de pagar,
a quantos por cento o terei de dar? Abro a carteira,
esvazio os bolsos, vou às contas, e tudo vazio: símbolos,
a zero; alegorias, esgotadas; metáforas, nem uma.
A quem recorrer? que fundo de emergência poética
me irá salvar? Então, no fim, resta-me uma sílaba – o ar –
ao menos com ela ninguém me impedirá de respirar.
in JL, May 2011