it’s for you, city, at your angel

the way a ruin dies and comes back to life. so it was, you with me, us.

you never stop generating yourself, old and young city, maiden. i never quite reach your mouth, never sip all of your stone lips.

you start at the end, you invent a river, you keep the sun in a painting. you want sleepless lovers who crush all words against your body. you want your clean fluid, cathedral, absolute desire. you want the hunger of the insane which creates all the grammar of the future.

but i make you bend your legs with my love, i conquer the places where you were never loved, drunk, unfolded. i give you my heart of blood if you want it – build with it a street corner where an embrace of flesh and stone will never come to an end.

i never possess you, and it’s through that thirst that you seek me, o streets. bridges where there won’t ever be a wall which is not invisible, arch. how can your waters be stairs, o city, always pregnant with the future.

you never stop creating me, struggle, lover. you always want me beyond that which i imagine myself to be. so simple in your miracle-free nature .

my blood runs through your streets, never enough. you are the only one who drinks it and you burn, water music.

i know we’ll never reach each other. that’s why i want us to die together – two juxtaposed eras, the way galaxies love.

© Translated by Ana Hudson, 2013

Arndtstrasse, 8-9 January 2013
unpublished

 

 

Nollendorfplatz. Berlin lovesong

é para ti, cidade, no teu anjo

como uma ruína morre e se torna vida. foi isto, tu comigo, nós.

não páras de te criar, cidade velha e nova, noiva. nunca chego suficientemente à tua boca, nunca te tomo todos os lábios de pedra.

começas no fim, inventas um rio, guardas o sol num quadro. queres amantes insones, que desfaçam as palavras todas contra o teu corpo. queres o seu fluído limpo, catedral, desejo absoluto. queres a fome dos loucos, que gera toda a gramática do futuro.

mas dobro-te as pernas com o meu amor, tomo-te os lugares onde nunca foste amada, bebida, desdobrada. dou-te o meu coração de sangue, se o quiseres – faz com ele uma esquina onde nunca mais um abraço de pedra e carne termine.

não te tenho nunca, e é por essa sede que me procuras, ruas. pontes onde nunca mais haja um muro que não seja invisível, arco. como são escadas as tuas águas, ó sempre grávida do futuro.

não páras de me criar, luta, amante. queres-me sempre mais além do que eu imagino ser eu. tão simples na tua natureza nua de milagre.

nas tuas ruas corre o meu sangue, nunca suficiente. só tu o bebes e ardes, música de água.

sei que nunca vamos chegar um ao outro. é por isso que quero que morramos juntos – dois tempos sobrepostos, como as galáxias amam.

Arndtstrasse, 8-9 Janeiro de 2013
inédito