I let him come closer
silently
tiptoeing up to my ear
While in my breast my heart
shivers
quickening my fevered blood
First the forest and then
the wood
more mist than snow in the texture
Of the poem that grows, the paper that absorbs
line by line at first
each unshelteredness
Vileness then strikes and
a sagacious
famished wolf crouches
Softly creeps and yet so voracious
that from the source he’s the core
and then the cracking
Lithe, agile on the path
he then takes a shortcut
runs with the pack or flees alone
In the quietness of night he brings
the moonlight
in a dress of ermine
I feel him arriving in the shudder
of my skin, in the sealed vertigo
of my gathered wrist
As I write
he flows over my dreams
I undress him slowly and lie with him
© Translated by Ana Hudson, 2010
Poema
Deixo que venha
se aproxime ao de leve
pé ante pé até ao meu ouvido
Enquanto no peito o coração
estremece
e se apressa no sangue enfebrecido
Primeiro a floresta e em seguida
o bosque
mais bruma do que neve no tecido
Do poema que cresce e o papel absorve
verso a verso primeiro
em cada desabrigo
Toca então a torpeza e agacha-se
sagaz
um lobo faminto e recolhido
Ele trepa de manso e logo tão voraz
que da luz é a noz
e depois o ruído
Toma ágil o caminho
e em seguida o atalho
corre em alcateia ou fugindo sozinho
Na calada da noite desloca-se e traz
consigo o luar
com vestido de arminho
Sinto-o quando chega no arrepio
da pele, na vertigem selada
do pulso recolhido
À medida que escrevo
e o entorno no sonho
o dispo sem pressa e o deito comigo
in Inquietude, 2006