Maybe deep down I believe
human beings will be pretty
much the same everywhere, but then
I figure women are the more.
The things we share,
the dustcloth, the tablecloth, the clothesline,
the shopping list, the marinade, the stove,
the basin, we cook our pans and rinse’em,
our errands, our bags, our eggs.

Surely they, for the most part,
shave their chins and love
the outdoors, but they are doctors,
farm men, stockmen, stockbrokers and the
whole gamut, we are
all house-tight, and

still don’t seem to agree, writing
this will do no good, narrow-minded
border etching, dualistic bullshit,
and poetry is descended from angels
who we all know are sexless.

Fine. Why do I bother,
I do my stuff and love my man,
have nothing nasty to complain,
he feeds my hunger so why
do I snarl? It’s not my shoes
I feel tight in, it’s your tarpaulins,
your high-heels, resentful women
I take in.
Your witty snippets, cracking the dishes,
your lipstick anger, your breasts
ajar, at the coffee-table
poisoning the air.

But when I talk of prejudice inherited,
of founding fathers, of floundering mothers,
you rage, you snap,
O for christ’s sake ya full of crap
what gives you the right to patronize?
I pay my bill, I rise, I pack, away
we break,

it was
my mistake.

© Written in English by Margarida Vale de Gato, 2010

Translated by Margarida Vale de Gato

 

 

Ressabiadas

Talvez lá no fundo acredite
que os seres humanos são todos sensivelmente
os mesmos em toda a parte, mas então
necessariamente as mulheres são mais.
Costumes que frequentamos:
o arame da loiça, os panos dos pratos, os ganchos e as linhas
do estendal, a vinha-de-alhos, o fogão,
o alguidar, guardamos os restos, torcemos
os trapos, os nossos recados, os nossos sacos, os nossos ovos.

Certamente que eles, em grande maioria,
escanhoam os queixos e gostam
de arejar, mas são médicos, polícias,
engraxadores, economistas
e os vários naipes da banda filarmónica
nós somos todas domésticas, mesmo

assim não nos entendemos, e
nem serve escrever isto
que o maniqueísmo em traços largos
resvala na aldrabice, e a poesia
vem dos anjos já se sabe
carecidos de sexo.

E aliás que me rala a mim,
levo a minha vida e tenho o amor
de que não desconfio
e se consolo o cio e a fome
decerto falo de cor,
nem é por isso que me doem os calos
mas por causa dos bicos
dos vossos saltos
no desnível dos soalhos, refinadas
galdérias que se tomam a sério,
pestanas certeiras e beiços
que brilham, línguas que estalam
e mamas que chispam

corada invoco a imagem mal tirada
da fêmea recortada ao macho que a conforma;
sei que desminto qualquer laço comunal
e seja como for ninguém pediu
o meu palpite, pelo que não me habilito
e me desquito, acinte
mudo, era eu

quem estava mal.

in Mulher ao Mar, 2010