8.
The gelatinous crown surrounding the city
melted. And here I was born in soot,
among scrupulously misled people ,
blues being bled from a sharp harmonica,
and never again has my mouth
kissed purity.
My very bones changed as I saw
that great cloud, a deadly sea horse
bearing down on the incompetent harbour,
on the sweat-dressed washing lines,
onto the snapshot of my
worn out family.
There was now no story, only me and the sea
meshed with the mood of the sky,
the blues again and their grimace of pain,
their hand-outs of love.
I never thought of studying anything useful.
To that end there will be guns and tyres
and nothing like that could ever
cure what I ail with.
Filthy cotton wool, slow-drip bags adrift
on fleeting and encrusted ceilings,
the doctor knew instantly my life
would be different: it was the blues.
Whenever I happen to stop in the middle of the square,
above where tunnels shake on the rails of some other poetry,
the serene convulsion of cities comes to my mind,
grinding and un-grinding like the teeth
of a lunatic bequeathed me by my insomnia,
one so often perched on the blue high-stool
on which my own kitchen finds respite.
And my neighbourhood has the rhythm of the cotton fields,
which are pure, tenderly chewed over
by the sun of existence,
and there’s always a train spewing enormous horns
of coal, so that my (?) gut struggle
may be written in the clouds.
Death will prevail, naturally, except perhaps
if we paid her everything in advance: cellophane wrapping,
stamps, flower pots, each entry ticket
of our hatred.
The gelatinous crown drains to dusk,
a taxi drives off destined perhaps for the heart
of forsakenness, girls hop through the elastic
of my silence and I, who have kept still,
light up like lightning, like the mouth of a volcano,
and tear the air with my
southern blues.
© Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2012
Scalinatella
8.
Desfez-se a coroa de geleia que rodeava
a cidade. Aqui nasci entre fuligens
e gente escrupulosamente perdida,
blues sangrado numa harmónica afiada,
e a minha boca não mais
beijou a pureza.
Alteraram-se-me os ossos quando vi
essa grande nuvem, funesto cavalo marinho,
abater-se sobre o porto incompetente,
sobre os estendais ataviados de suor,
sobre a fotografia da minha
família estafada.
Agora não havia história, era eu e o mar
misturado aos humores do céu,
novamente o blues e o seu esgar de nojo,
a sua esmola de amor.
Nunca pensei em estudar nada que me fosse útil.
Para isso haverá revólveres e pneus,
e nenhuma coisa que a essas se assemelhe
me poderia curar do que tenho.
Algodões infectos, balões de soro que flutuavam
pelos tectos fugidios e encardidos,
o meu médico soube de imediato que eu haveria
de levar outra vida: era o blues.
Quando me sucede parar a meio da praça,
onde já o subterrâneo freme nos carris de outra poesia,
penso na serena convulsão das cidades,
desmontando-se e montando-se como os dentes
de um louco que a minha insónia me oferece,
tantas vezes empoleirado no tamborete azul
onde a minha cozinha encontra repouso.
E o meu bairro é uma cadência dos campos de algodão,
esses sim puros, ternamente mastigados
pelo sol da existência,
e sempre um comboio bolçando enormes chifres
de carvão, para que no firmamento se escreva
a minha (?) luta intestina.
A morte vencerá, é claro, exceptuando talvez
se lhe adiantarmos tudo: celofanes, selos timbrados,
vasos de flores, cada porta
do nosso ódio.
A coroa de geleia escorre crepuscular,
partiu um táxi provavelmente destinado ao coração
do desamparo, raparigas saltitam pelo elástico
do meu silêncio, e eu, que tenho estado quieto,
acendo-me de relâmpagos, como a boca do vulcão,
e esfrangalho o ar com o meu
blues meridional.
in Napule, 2011