For once say how your body adjusts to the surface
of your words. Speak a previous afterwards, the demented
sleep in the gash of light; the violent flight or cyclical
wound, intemperate absence over my skin when
your scent lingers untimely in my hands. Warmth spreads to the lips,
summer plays the length of the verse, forceful,
water whirls at the bottom of the well till it vanishes into the mute bed.
Nothing is what it seems, we remember that which we forget and I tell
from the bare fingers dissolving in your mouth the honey on the shattered
flower tips. Look at me: lie your gaze upon my dress, pull
it off in a rash, inebriate gesture like a prisoner’s deliverance;
the fish quickly rise in the immoderate lake and night returns,
slow, in deep sleep. I give you what I do not have – the story
of an exulting river exploding in the mouth in romantic fiction,
a poem with no tragic tearing or complete language. And you, you
give me what I am: a metaphor aching aloud where the text ends.

© Translated by Ana Hudson, 2010

Alvo

Por uma vez conta como o corpo se ajusta à superfície
das tuas palavras. Fala de um depois anterior, desse sono
demente na fissura da luz; do violento voo ou ferida
cíclica, a ausência excedendo-se na pele quando a desoras
perfumas minhas mãos. Estende-se o calor aos lábios,
o verão simula a duração no verso, circula a água, vigorosa,
no fundo do poço até desaparecer na cama muda.
Nada é o que parece, lembra-se o que se esquece e eu digo
os dedos descalços dissolvem em tua boca o mel à flor dos
destroços. Olha-me: deita o olhar em meu vestido, tira-o
num gesto ébrio e precipitado como a um prisioneiro,
os peixes sobem lestos no lago imoderado e a noite volta,
lenta, adormecida. Dou-te o que não tenho – a história
de um rio exultante a explodir na boca em versão romântica,
poema sem trágicos sulcos ou fala completa. E tu, tu dás-me
o que sou: metáfora doendo-se alto onde acaba o texto.

in Nós/Nudos, 25 poemas sobre 25 obras de Paula Rego, 2007