To CPAI

They gather writers at the door
of leisure centres
and mark them with numbered
bracelets
and colours matching each berth
and stand there in contemplation
filled with tenderness and curiosity

They read them their rights in prose
and bet on their market value
after the first winter
they give them temporary names as pseudonyms
a nationality and a passport
And when they start to show
the first inclination towards some literary genre
they put them on an international plane or train
which will take them to learn about the art
and the main printing-shops of the kingdom

The breeders of poets dress
them early in the morning
in season-suited clothes
and buy them safety pins
and hair slides and ribbons

They change the poets’ nappies and make them laugh
with funny faces and idiomatic expressions
till they sketch their first love poem
and then they carry them off to poets’ meetings
and offer them sweets when they throw tantrums
and sing to them during their creativity crises
as if winding a music box

But they don’t always shear them at the right time
when they take them on the leash to sacred places
in nocturnal harbours in overflowing cities
In the meantime they show them great innovations
saying – this is science, this is art
this my boy, is impatience

The breeders introduce the poets
to the right people and the right places for them to sit
help them to decipher signposts in other languages
and to go over roads on zebra-crossings

And as soon as they reach a certain size
and learn to write poems
of several pages on their own
they exchange them for younger poets
who don’t yet wear specs or annoying beards

Sometimes the poets resist the change
and feel rejected when told
– now get on with your life

The breeders of poets however
go on remembering them
giving them golden pens
and printed paper on world poetry day
and even invite them to say a few words
at that great religious celebration

But then the poets in residence
in other fast breeding houses
with their attention-stuffed bodies
welling in creative resentment say
– I don’t know you from adam
and words are now out of fashion

© Translated by Ana Hudson, 2012 Ítaca Magazine, nr3

 

Os criadores de poetas

Para o CPAI

Recolhiam os escritores à porta
dos clubes recreativos
e colocavam-lhes pulseiras
com um número
e uma cor a condizer com a alcofa
depois ficavam a olhar para eles
com uma certa ternura e curiosidade

Liam-lhes os direitos em prosa
e faziam apostas quanto ao valor
de mercado depois do primeiro Inverno
escolhiam nomes provisórios como pseudónimo
uma nacionalidade e um passaporte
E quando eles começavam a esboçar
as primeiras inclinações para um género literário
metiam-nos num avião ou num comboio internacional
que os levasse a conhecer o estado da arte
e as principais tipografias do reino

Eram os criadores de poetas
que os vestiam logo de manhã
com roupas adequadas à estação
e compravam alfinetes de ama
e ganchos ou fitas para o cabelo

Mudavam-lhes as fraldas e faziam-nos rir
com caretas e expressões idiomáticas
até esboçarem o primeiro poema de amor
depois levavam-nos ao colo para os encontros de poetas
ofereciam-lhes guloseimas quando eles faziam birras
e cantavam-lhes canções durante as crises criativas
como se dessem corda a uma caixa de música

Mas nem sempre os tosquiavam na altura certa
enquanto os levavam pela trela até aos lugares santos
entre portos nocturnos de cidades a transbordar
Entretanto mostravam-lhe as grandes inovações
e diziam-lhes – isto é a ciência, isto é a arte
isso meu pequeno, é a impaciência

Eram os criadores que lhes apresentavam
as pessoas certas e os lugares onde se deviam sentar
que os ajudavam a decifrar letreiros noutras línguas
e a atravessar as estradas na passadeira

E quando atingiam um determinado porte
e aprendiam a escrever sozinhos
poemas de várias páginas
trocavam-nos por outros mais novos
ainda sem óculos e aquela barba incómoda

Às vezes os poetas resistiam à mudança
e sentiam-se rejeitados quando lhes diziam
– agora vai à tua vida

Os criadores de poetas continuam
no entanto a lembrar-se deles
oferecem-lhes canetas douradas
e papel timbrado no dia mundial da poesia
e ainda os convidam a dizer algumas palavras
para essa grande celebração religiosa

Mas nessa altura os poetas cativos
de outras casas de criação rápida
com o corpo empanturrado de atenção
e cheios de um ressentimento criativo dizem
– Não te conheço de lado nenhum
e agora as palavras estão fora de moda

[/el_text_html][el_text_html el_class=”row_referencias” spy=”none” scroll_delay=”300″]Revista Ítaca, nº3