Truncated, undefined, short
stories of carnal love pass
in the mind like silent
movies. The nightly swollen river
always spreads over the salty flat
afternoon: January flakes the paint
off walls, into the streets we take
a more sullen face and then down
the frozen food aisle, we can’t tell
what we feel beyond the cold that
imprisons all things: we walk alone
in a private wood, we summon
shadows that have become nameless,
signs that no longer carry
an automatic feel for desire
or pain. Yet, despite the certainties
we wouldn’t have wished to have,
we always end up going back
to the same streets, to the sleeplessly
immense night where it hurts to find out,
in other people’s company,
how solitude lays claim on us.
© Translated by Ana Hudson, 2011
A secção dos congelados
Truncadas, indefinidas, passam
na memória como filmes mudos
pequenas histórias de amor
carnal. Os grandes caudais da noite
sempre desaguam na tarde salobra
e rasa: Janeiro amolece a tinta
das paredes, levamos à rua uma cara
mais fechada, e depois, na secção
dos congelados, não sabemos distinguir
o que sentimos além do frio que represa
as coisas todas: caminhamos sós
num privado bosque, convocamos
sombras que foram perdendo o nome,
sinais que não transportam já
um sentido automático de desejo
ou sofrimento. E contudo, à revelia
das certezas que não quiséramos ter,
acabamos sempre por tornar
às mesmas ruas, à noite insone
e imensa, onde nos dói descobrir,
na companhia dos outros,
o quanto nos reclama a solidão.
in Capitais da Solidão, 2006