There,
bending over the washing, you sang inside yourself the song
of sad girls,
those torn from youth,
like freshly cut marigolds in grandmother’s vase,
on the table.
My son,
my blue enigma of southern skies, you said.
So much tenderness, so much clear, golden
honey,
exposed to a storm of sudden flames.
How can I look for you now, in the eternity of ashes,
among the roots, still bleeding.
How can I see you once more
re-incarnate in the young bride betrayed by the sea,
next to the mourning women.
You were the slow revolving of the afternoons,
and through them you came down the mountain and reached
the valley of shadow.
You sang
so that I fell asleep, holding
a star,
you sang the sad song of an island girl.
Mother,
it’s with you I speak,
mourning the distance from a
crib to a tombstone,
after hearing birds
calling me,
and suddenly stop,
when my breathing startled them,
unaware that my chest held
but a little breath.
© Translated by Ana Hudson, 2014
Ali
Ali,
debruçada no tanque, cantavas para dentro a canção
das raparigas tristes,
arrancadas à mocidade,
como os malmequeres frescos, na jarra da avó, sobre
a mesa.
Meu filho,
meu enigma azul dos céus do sul, dizias.
Tanta ternura, tanto mel coado,
dourado,
exposto a um vendaval de chamas súbitas.
Como procurar-te agora, na eternidade das cinzas,
entre as raízes que ainda sangram.
Como ver-te, uma vez mais,
reencarnada em jovem noiva traída pelo mar, junto
às mulheres de luto.
Eras a lenta rotação das tardes,
e pelas tardes descias a montanha e depois chegavas
ao vale da sombra.
Cantavas,
para que eu adormecesse enfim, apertando nos braços
uma estrela,
cantavas a canção das raparigas tristes de uma ilha.
Minha mãe,
é contigo que falo,
depois de ponderadas as distâncias que vão de um
berço a uma lápide,
depois de ouvir os pássaros,
chamando por mim,
interrompendo-se bruscamente,
quando a minha respiração os sobressaltava,
sem saberem que no meu peito já pouco ar o
percorria.
in Caminharei pelo Vale da Sombra, 2011