there’s a savage light scanning my name
slowly going insane
within the humid gut of memory.
the voice’s space
expands until it reaches the unbreathable age of objects.

i sit watching the beach
how the water dreads coming too close
almost touching on questions.

my eyelids drain down to the nerves.

there is an unbearable coldness in the slide of time
over the moulded plaster of each name,
and a feverish place, where intelligence manages to crumble away
at all the decipherable traces of life.
each name, in the inner stillness of its womb,
in the simmered blood of nights,
carries an unpronounceable
heavy light.

© Translated by Ana Hudson, 2013

 

há uma luz selvagem

há uma luz selvagem que me percorre o nome
e que enlouquece lentamente
no interior húmido da memória.
o espaço da voz
expande-se até à idade irrespirável dos objectos.

sento-me a observar a praia
e a forma como a água tem medo de se aproximar demasiado
e pousar nas perguntas.

as pálpebras escorrem-me até aos nervos.

há um frio insuportável na passagem escorregadia das horas
no gesso de cada nome,
e um sítio febril onde a inteligência consegue deteriorar
todos os vestígios decifráveis de vida.
cada nome, no interior imóvel do seu ventre,
no sangue fervido das noites,
transporta uma luz pesada,
impronunciável.

in O Sono Extenso, 2011