A human being is a blend of selfishness,
pain and foolishness. Doesn’t move anyone.
A stone doesn’t move anyone. Beauty
is an ordinary hazard and presupposes death;
it’s often surrounded by folly, and if it speaks to us,
it can be frightening. Intelligence, refreshing
like a shower, feels good in the summer; but now,
when it’s forever winter, what place shall we allocate
intelligence? The one of a maid servant in the chambers
of greed. It doesn’t obviously move anybody.
Goodness does. But it’s so frail
and so rare that nobody hears it. It isn’t easy,
therefore, to find something we can love. I’ve been
searching, and swear I don’t know what to do:
everything, even music, seems to me the result of some flaw.
I wander these streets at random and don’t come across
anybody who can convince me that life could well
be different. Everything is seen under distorting mirrors,
all burns in strange acceptance. Frankly,
I wish someone would prove me wrong.
© Translated by Ana Hudson, 2011
Morangos Silvestres – Ingmar Bergman (1957)
Um ser humano é um combinado de egoísmo,
sofrimento e necedade. Não comove ninguém.
Uma pedra não comove ninguém. A beleza
é um acidente banal e pressupõe a morte;
muitas vezes se rodeia de sandice, e se nos fala,
chega a ser assustador. A inteligência, refrescante
como um duche, sabe bem, no Estio; mas agora,
que é Inverno toda a vida, que lugar atribuir
à inteligência? O de criada de servir nos aposentos
da ganância. Não comove, é evidente, ninguém.
A bondade, sim, comove. Mas é tão débil
e tão rara que ninguém a ouve. Não é fácil,
assim, encontrar algo que possamos amar. Eu
tenho procurado, eu juro que não sei o que fazer:
tudo me parece, até a música, produto de uma falha.
Vou por essas ruas ao acaso e não acerto a conhecer
quem me convença que bem outra poderia ser
a vida. Tudo se mostra sob espelhos deformantes,
tudo arde numa estranha aceitação. Francamente,
que alguém me demonstrasse que não tenho razão.
in Movimentos no Escuro, 2005