Work and more work
to give birth to a father
in my loneliness as a decaying
plough that ploughs nothing
because like a train in need of tracks
the furrows precede my ploughing.
I’m a circular son. Like a sign
of the Zodiac I’m a circular son, what I do
needs what I’m moving in
which is where I move
what I do and how can I do it
if I no longer have what to move in? What I do
is what made me.
I am train, plough and turn table
with no records. Unparalleled I spread
in circles a rotund sadness
from the incubation of a vertiginous vortex
which I help to solidify: once again the solid
solitude: the first image of the train is easy:
it urges compassion. And the circular oxen are
heavy made dizzy by my plough,
and the turning table turns in vain
without records. How heavy can
dizzy oxen be? Like being a father
when you are the son?
© Translated by Ana Hudson, 2010
Trabalho e trabalho
Trabalho e trabalho
para dar à luz um pai
na minha solidão de depauperado
arado que nada sulca
porque como um comboio a que faltaram carris
prévios ao meu arado são seus sulcos.
Sou um filho circular. Como um signo
zodiacal sou um filho circular, requer o que faço
aquilo em que me movo
que é aquilo em que me movo
o que faço e como fazê-lo
se não tenho já em que me mova? O que faço
é o que me fez.
Sou comboio e arado e um rodado
sem discos. Sem paralelo em círculos
rotunda tristeza propago
de vertiginosa incubação de vórtices
que ajudo a solidificar: outra vez a sólida
solidão: é fácil a primeira imagem do comboio:
insta à compaixão. E são pesados os bois
circulares que o meu arado
entontece, em vão o rodado
sem discos. Quanto pesarão
bois entontecidos? Como ser pai
quando se é filho?
in Os fantasmas inquilinos, 2005