They wake up with dithyrambs
and lean their bellies against hallucinated
windows and know
they can make
the right words fly
just before the compulsive
crying session
At breakfast
they stand on tables
with their fully patented leather shoes
and jump up like fish
throwing ropes around the neck
of whoever is nearest
and write with the urgency
of those who inspire compassion
close to rejection
There are some who start by explaining
their poems and write theses
mistaken for literature
wrapped up in an old newspaper
several notches better
than the absent place of poetry
And the most reserved ones
who wake up in the afternoon
and start to describe
extreme positions while
repeatedly showing the palms of their hands
saying
– Can you see the future, the future
is in my hands
They always want to take the floor
and then apologise for it
but they carry their words through rooms
and corridors till they smother
all despairing places
And the staff full of intensive
care look after the poets’
clothes and internal hygiene
smoothing wrinkles and imperfections
out of the most exposed verse
resolving any formal obstruction
and whispering clean words in their ears
They expurgate the useless spots
open the bedroom doors
blow out the candles if the poets go to sleep
with their heads leaning on pictures
or on other incandescent ideas
and take note of the poets’ words
during their agitated rest
with their shoes still on
Some bipolar poets gather
at night in the most individual way
and sweat in their own tedium
on the narrow balconies of their rooms
while others go down to the cellars
of the buildings to spy
on the flexible muscles
which support the cultural constructions
in which they find genuine inspiration
full of an inner all embracing sparkle
as if it were a type of underground
eagle ready to lift its wings
And then they go on digging
eyes half-closed in the dark
devoted to a guaranteed-profit plan
till they reach a poetry without language
or connection with the word
© Translated by Ana Hudson, 2012 Ítaca Magazine, nº2
Os poetas bipolares
Acordavam como ditirambos
e encostavam a barriga às janelas
alucinadas e sabiam
que podiam fazer voar
as palavras certas
àquela hora antes da sessão
de choro compulsivo
Ao pequeno almoço
subiam para as mesas
com os sapatos cheios de verniz
e saltavam como peixes
a lançar cordas ao pescoço
de quem estava próximo
e escreviam com a urgência
de quem inspira uma piedade
próxima da rejeição
Havia alguns que começavam por explicar
os seus poemas e faziam teses
que se confundiam com literatura
embrulhada em papel de jornal antigo
e que era várias vezes superior
ao lugar ausente da poesia
E aqueles mais reservados
que acordavam pela tarde
e começavam a descrever
posições extremas enquanto
mostravam muito a palma das mãos
seguidas e diziam
– Vês o futuro, o futuro
está nas minhas mãos
Queriam tomar sempre a palavra
e depois pediam desculpa pelo incómodo
mas continuavam com a palavra pelas salas
e corredores adentro até asfixiarem
todos os lugares de desespero
E as camareiras cheias de cuidados
intensivos cuidavam da roupa
e da limpeza interior dos poetas
alisavam os vincos e as imperfeições
nos versos mais expostos
resolviam qualquer obstrução formal
e ditavam-lhes palavras limpas ao ouvido
Depuravam os lugares inúteis
abriam as portas dos quartos
sopravam as velas se eles adormeciam
com a cabeça encostada a uma ilustração
ou a outras ideias incandescentes
e tiravam notas do que eles diziam
no meio de algum sono agitado
ainda com os sapatos calçados
Os poetas bipolares reuniam-se
à noite o mais individualmente possível
e transpiravam com o próprio tédio
nas varandas estreitas dos seus quartos
enquanto outros desciam às caves
dos condomínios para espreitar
os músculos basculantes
que suportavam os edifícios culturais
e encontravam inspirações genuínas
cheias de um fulgor que os abraçava
por dentro como uma marca de águia
subterrânea prestes a erguer as asas
E depois continuavam a escavar
de olhos semicerrados e luzes apagadas
vinculados a uma ideia de fundo garantido
até chegarem a uma poesia sem linguagem
nem comunicação com a palavra
Revista Ítaca, nº2