Blessed is the fruit of your womb,
mother,
my house of silence,
built in the mountains.

Blessed were the thimbles of your art, the
needles of your fire,
when you embroidered with threads of silver and sorrow
the shawls of murmured prayers,
the faint music of the shells.

I’m still breathing in your water,
your deepest water,
I still call you when the wolves
look for me
when terror strikes the eyes of pure
beasts.

Blessed is our daily dwelling
and the beautiful wind-bird
singing for the last time on the branches
of the naked tree.

Blessed are you forever,
mother of the high lands,
my lady of irredeemable mourning.

© Translated by Ana Hudson, 2014

 

Bendito seja

Bendito seja o fruto do teu ventre,
minha mãe,
minha casa de silêncio,
erguida sobre as montanhas.

Benditos eram os dedais da tua arte, as
agulhas do teu lume,
quando bordavas com fios de prata e dor
os xailes de orações murmuradas,
de vagas entoações de búzios.

Ainda respiro na tua água,
a tua água muito de dentro,
ainda chamo por ti quando os lobos me
procuram,
quando o terror bate nos olhos dos animais
puros.

Bendita seja a morada nossa de cada dia
e o belo pássaro do vento
que canta pela última vez nos ramos da
árvore despida.

Bendita sejas para sempre,
minha mãe das terras altas,
minha senhora de irremediável luto.

in Esta voz é quase o vento, 2004