From one extreme to the other
the impenetrable shadow of the trams
the still of glasses and the water that shapes them
the propriety of those who return
like statues of sand crumbling down the avenues
and all of the traffic lights seen from space
innocent
and cold
At this hour
the warehouses start dispatching
my displaced fever just gone with the rubbish
this journey drifted off its destination
this shock so concretely declared
has solved the miracle
the reality of my past actions
unexpected
in its similarity
to being run over
We are but a random verse
a begged for verse that comes amiss
and yet adjusts to and accepts
its own disaster
for everything is like this
the taming of our eyes
the snakes in the desert
the unexpected matters that serve us
and serve generally
with no winter disruptions
the collision course
with fright
For this desultory muscle mass
is the poem
and the poem is the provisional death
of that which never dies
which resurgent from the filthy bandages
died and did not it sneaked through tunnels
subtle and scandalous
and is now vast like sacrifice
like reparation for injury
like a dismantled machine
You who left
couldn’t vote for the logistics of your rage
you dumped tenderness on the wastelands
set fire to your mind
observed a minute’s silence which cost you your voice
but this wasn’t preparing yourself
this was and will always be the simultaneous translation
of your dialect
into the common tongue we ignore
and opposing verbs (grammar is inexplicable)
are conjoined twins in the blind tribute we owe
to movement
There is no preparing
there is no death
all I can denounce as mine
is strong in the bone swift in the nerves
as if the dismembered hope
my suicide even
weren’t preventing me from reaching the involuntary secret
which went through me
and is my will
At this hour
while the grass obsesses over the rain
I too am framed in hospital windows
I too talk to the tables
I too pore over the map
in extremis
so as not to overlook the very place of my fall
© Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2012
De extremo a extremo
De extremo a extremo
a sombra intransponível das carruagens
os copos parados e a água que os exerce
a propriedade dos que regressam
como estátuas de areia a descer as avenidas
e todos os semáforos vistos do espaço
inocentes
e frios
A esta hora
os armazéns começam a expedir
a minha febre desalojada ainda há pouco levada com o lixo
esta viagem afastou-se do seu destino
este abalo tão concretamente declarado
veio solucionar o milagre
a realidade dos meus actos transactos
a sua inesperada
igualdade
com os atropelamentos
Não somos mais que um verso do acaso
um verso implorado que vem errado
e porém se acerta e conforma
com o seu próprio desastre
pois assim é tudo
o estacionamento dos nossos olhos
as serpentes no deserto
os materiais imprevistos que nos servem
e servem geralmente
sem interrupções de inverno
a rota de colisão com
o susto
Porque esta musculatura desconexa
é o poema
e o poema o óbito provisório
do que não morre nunca
do que se refaz nas ligaduras infectas
morreu não morreu passou secreto pelos túneis
subtil até ao escândalo
e agora na amplidão como um sacrifício
como a reparação de um dano
como máquina dispersa
Tu que partiste
não pudeste eleger a logística da tua raiva
depositaste a tua ternura nos descampados
incendiaste a cabeça
observaste um minuto de silêncio que te custou a boca
mas isso não foi preparares-te
isso foi ainda e será sempre a tradução simultânea
do teu dialecto
para o idioma comum que ignoramos
e os verbos contrários (a gramática não explica)
siameses no tributo cego que devemos
ao movimento
Não há preparação
não há morte
tudo o que posso denunciar como meu
é forte nos ossos rápido nos nervos
como se a esperança desmontada
o meu suicídio até
não me impedissem de chegar ao segredo involuntário
que me cruzou
e é a minha vontade
A esta hora
enquanto o relvado interpreta obsessivamente a chuva
também eu me enquadro na janela dos hospitais
também eu falo com as mesas
também eu me inclino sobre o mapa
in extremis
para não ignorar o lugar da minha queda
in Omertà, 2007