Stupid autumn
imposing its rust on everything,
arthrosis conquering the hinges
and the spirals from
giddy screws
like in an old hardware warehouse.
And also these trees are
impossible: trees
like vans with their flying
canvas covers, grinding
the great pain
of change.
Stupid trees: each top
an entanglement of wires,
a public electric installation
out of Calcutta, smelting
the sky, fraying
its canopy.
Or this autumn is just
a concrete mixer
regurgitating its dizzy slime.
Stupid autumn. And
what a misconstruction
to take my eyes for
a building plot!
© Translated by Ana Hudson, 2010
Opacidade
Estúpido outono
a tudo impondo sua ferrugem
como num velho armazém de ferragens
a artrose ganhando dobradiças
e as espirais
a parafusos zonzos.
E estas árvores são também
impossíveis: árvores
como furgonetas com seus toldos
esvoaçantes, rangendo
a grande dor da
mudança.
Estúpidas árvores: cada copa
um enleio de fios,
uma instalação eléctrica pública
de Calcutá, fundindo
o céu, seu
capote puindo.
Ou este outono é só
uma betoneira
regurgitando o seu betão zonzo.
Estúpido outono. E que erro
tomar os meus olhos
por um aterro!
in Os fantasmas inquilinos, 2005